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O que Fernanda Torres nos ensina sobre a representatividade nas empresas?

Embora algumas empresas estejam atentas à questão da diversidade etária, a maioria não possui ações estruturadas de recrutamento 50+
O que Fernanda Torres nos ensina sobre a representatividade nas empresas?
Fernanda Torres leva Globo de Ouro por atuação em Ainda Estou Aqui | Foto: Reuters

Nas últimas semanas, o Brasil parou para torcer pelo filme “Ainda Estou Aqui” na premiação do Oscar e, em especial, pela sua protagonista Fernanda Torres – a segunda brasileira a ser indicada à categoria de melhor atriz na história da premiação. O entusiasmo em torno da pessoa de Fernanda vinha crescendo desde que ela venceu outro importante prêmio: o Globo de Ouro e culminou com a sua indicação para o Oscar.

Como disse Milly Lacombe, jornalista e cronista, passamos a viver um sentimento Fernanda Torres, movimento esse que invadiu as ruas do Carnaval, com fantasias das personagens já vividas pela atriz, boneco gigantes, brincos, bottons, adesivos, dentre outros adereços que se espalharam pelo País afora. Segundo relatos da própria Fernanda, não há nada que comprove mais a fama de uma pessoa no Brasil do que ela se tornar tema de Carnaval. Mas você pode estar se perguntando o que isso tem a ver com
representatividade e ainda mais dentro das empresas.

Fernanda é uma mulher que atingiu o auge da sua carreira aos sessenta anos de idade, esbanjando beleza, sensualidade e vitalidade. Devido ao seu carisma e à sua inteligência, ela foi ganhando espaço na mídia e acabou por ser entrevistada pelos maiores veículos de comunicação do Brasil e do mundo. Com uma persona que mescla humor e sagacidade, foi provando a todos o poder da mulher madura e que a nossa jornada profissional não é retilínea e tampouco tem hora certa para acabar. Imaginem se o diretor Walter Salles simplesmente tivesse desistido de escalar Fernanda devido à sua idade. Muito provavelmente “Ainda Estou Aqui” não tivesse alcançado o sucesso que alcançou.

Feminização do envelhecimento

Pois é exatamente isso que presenciamos atualmente no mundo corporativo. As mulheres maduras, atravessadas pela dupla intersecção do sexismo e do etarismo, enfrentam dificuldades de se manterem nos seus postos de trabalho, desafios esses que não dizem de sua capacidade técnica, mas sim de sua vida e da sua imagem pessoal. As poucas que conseguem se sustentar são impelidas a se manterem jovens e belas para se encaixarem no sistema e naquilo que é o esperado delas socialmente.

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Muito embora as mulheres sejam maioria na população de forma geral e, particularmente, a partir dos 55
anos, elas ainda vivenciam barreiras no contexto do trabalho à medida que envelhecem, fenômeno que vem sendo conhecido como feminização do envelhecimento. Estudo feito pela Ernest Young e pela Maturi em 2022 aponta que embora algumas empresas já estejam atentas à questão da diversidade etária, a maioria delas (54%) não possui ações estruturadas de recrutamento e seleção de profissionais 50+. Apesar de alguns temas do espectro da diversidade, equidade e inclusão estarem na pauta dessas organizações, a diversidade etária ainda não está.

E agora voltemos à Fernanda e à sua representatividade. Deixo como conclusão do artigo, que as empresas brasileiras aproveitem o momento e o sentimento em torno do brilhantismo e da vivacidade da atriz para se questionarem: quantos talentos e quanta capacidade produtiva estão perdendo ao simplesmente excluir as mulheres maduras de seus quadros laborais quando elas não atendem mais ao padrão estético “universal” esperado de uma mulher?

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