Setembro amarelo, assédio e os contrastes no ambiente de trabalho
Num Brasil em chamas e penosamente cinza, a campanha do setembro amarelo, cujo intuito é conscientizar a população sobre a importância do cuidado com a saúde mental, mobiliza organizações em torno de seminários, bottons, cartilhas e afins. Mas será que, no dia a dia, o ambiente e as relações de trabalho realmente propiciam um espaço saudável para a mente e um convívio são?
Uma primeira forma importante de zelar pela saúde mental das pessoas, além de condições adequadas de trabalho e salário digno, é garantir que as ações simbólicas de conscientização correspondam às práticas diárias. Como comunicadora, designer e professora, sinto a necessidade de reforçar que, segundo a Gestalt — teoria que estuda o impacto das cores na psicologia, design e comunicação — o amarelo, que marca este setembro, é uma cor que pode estimular o sistema nervoso, promovendo clareza mental e comunicação eficaz. Entretanto, essa clareza e comunicação precisam extrapolar o campo simbólico e adentrar os espaços de convivência.
Sobretudo para muitas mulheres, o ambiente de trabalho continua sendo um campo de batalha diário. Sob a superfície de discursos sobre “resiliência” e “superação”, esconde-se a realidade de quem enfrenta desconfortos como o desgaste emocional causado por piadas sexistas, olhares invasivos e microagressões frequentes.
Na última semana acompanhamos a demissão do ministro de direitos humanos por denúncias de assédio sexual, mas engana-se quem acredita que esta seja uma prática recorrente. Seguimos varrendo o assédio para debaixo do tapete, enquanto as vítimas continuam a ser desacreditadas e culpabilizadas. O medo de retaliações ao denunciar um superior ainda é a regra, não exceção.
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Percebo que para muitas organizações, ainda não é óbvia a relação entre o assédio e outras práticas abusivas e a saúde mental. Se queremos realmente levar a sério a prevenção ao suicídio, precisamos falar de assédio. Precisamos reconhecer o papel dos ambientes de trabalho tóxicos na deterioração da saúde mental das pessoas. E precisamos, mais do que nunca, construir espaços onde seja praticada a cultura do respeito.
A saúde mental depende, em grande parte, do ambiente onde vivemos e trabalhamos, por isso, considero que o verdadeiro desafio seja promover ações estratégicas que condigam com a cor escolhida para o mês: que prezem por serenidade, clareza mental e comunicação eficaz.
Funcionários informados sobre seus direitos e deveres, canais de denúncias ativos e confiáveis e organizações conscientes que o real comprometimento com as pessoas é onde mora o seu maior valor de marca. Acima de qualquer campanha, de qualquer cor.
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