Construindo o amanhã

A interação com o mercado de trabalho

A interação com o mercado é uma importante forma de aprendizado por experiência por várias razões

Recentemente, durante entrevistas para um processo seletivo, fui positivamente surpreendida pela determinação e iniciativa de jovens que, antes mesmo de iniciar a graduação, já estavam colocando em prática suas habilidades e atuando em diversas áreas do mercado.

Ao refletir sobre minha própria trajetória aos 18 anos, quando estava ingressando na faculdade, percebo o quão distante estava de qualquer envolvimento com o mundo de negócios. Eu não tinha preparo algum para discutir temas como estratégia, empreendedorismo, investimentos ou gestão de negócios. O mais próximo que cheguei de alguma experiência com o mercado foi já como estagiária no oitavo período do curso.

Conversando com um desses jovens, descobri que ele já trabalhava na indústria da família há alguns anos, vivenciando de perto todos os aspectos do negócio, inclusive se responsabilizando pela liderança de uma pequena área. Um verdadeiro aprendizado hands-on ou mão na massa.

Outro relato interessante foi de um outro candidato, que, sem acesso a uma empresa familiar para se envolver, optou por aprender por meio de cursos online e outras formas de estudo autodidata para se aprofundar no tema de investimentos.

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A primeira pergunta que me acometeu foi: será que a interação com o mercado desde cedo é um fator determinante para o sucesso pessoal e profissional dos jovens?

Minha resposta é um enfático sim! A participação ativa no mercado desde cedo é extremamente importante para experimentar, vivenciar, conhecer e fazer escolhas assertivas. Essa interação proporciona um aprendizado valioso por meio da experiência prática.

Inclusive, essa prática não é nova. O fundamento do aprendizado baseado em experiência remonta aos trabalhos pioneiros de meados do século 20 dos pensadores John Dewey, Kurt Lewin e Jean Piaget, que reconheceram a importância crucial da experiência na formação do conhecimento.

A obra seminal de David Kolb, “Experiential Learning”, aprofundou nossa compreensão e elucidação sobre os benefícios inerentes das metodologias experienciais. Kolb articulou, de maneira perspicaz, os elementos fundamentais desse processo, destacando, de forma integral, a interconexão entre a experiência concreta, observação reflexiva, conceitualização abstrata e experimentação ativa.

Não posso deixar de mencionar Paulo Freire, nosso filósofo e educador, que também destacava a importância de uma educação intimamente conectada ao cotidiano das pessoas, fundamentada em experiências vividas.

A interação com o mercado é uma importante forma de aprendizado por experiência por várias razões. Permite que os jovens apliquem e testem seus conhecimentos teóricos em situações reais, desenvolvendo habilidades como tomada de decisão, adaptação a mudanças e resolução de problemas concretos.
Além disso, ainda os expõe a diversas perspectivas, cenários e dinâmicas que podem não ser totalmente replicadas em ambientes de aprendizado tradicionais. A consequência disso? Desenvolvimento de habilidades interpessoais, como a capacidade de trabalhar em equipe, negociação e comunicação efetiva.

Finalmente, mas não menos importante, a interação com o mercado possibilita ao aluno se inserir em um ambiente de constante evolução, o que requer habilidades como aprendizado rápido e adaptação a novas tendências, tecnologias e contextos, preparando os jovens para atuar nos desafios do mundo contemporâneo.

E será mesmo que o papel de trazer experiência para os jovens está tão somente nas instituições de educação? Certamente que não! Pais, organizações e a sociedade como um todo também podem participar nesse processo.

Como mãe de dois adolescentes, estou constantemente empenhada em enriquecer a vivência de meus filhos ao proporcionar-lhes experiências práticas que transcendam a sala de aula. Busco apresentar a eles uma gama diversificada de conteúdos e vivências, contribuindo para que possam desenvolver argumentos mais sólidos e embasados, além de proporcionar um crescimento significativo em suas habilidades e perspectivas.

As organizações, sejam elas públicas, privadas ou do terceiro setor, também podem desempenhar um papel crucial no aprimoramento da educação ao estabelecerem parcerias estratégicas com instituições de ensino e ao disponibilizarem executivos para atuarem como mentores e palestrantes, compartilhando valiosas experiências do mundo corporativo.

Essa é uma via de mão dupla. Enquanto os estudantes absorvem conhecimentos práticos e ganham insights valiosos, as organizações se beneficiam das perspectivas inovadoras e, muitas vezes, inéditas dos jovens.

Por fim, a sociedade como um todo, está sofrendo com desafios de proporções inimagináveis: fome, desigualdade, pobreza, mudanças climáticas, questões geopolíticas que demandam ações transformadoras. Nesse contexto, os jovens, muitas vezes, surgem como agentes potenciais de mudança.
A reflexão final que deixo é: “como podemos contribuir para enriquecer a experiência e vivência dos nossos jovens?”.

Cabe a cada um de nós, como indivíduos, profissionais e líderes refletir sobre o papel que desempenhamos na formação das gerações futuras. Podemos compartilhar conhecimentos, oferecer mentoria, promover ambientes de aprendizado práticos e, acima de tudo, incentivar a inovação e a busca por soluções transformadoras. Desenvolvendo os nossos jovens investimos no alicerce de uma sociedade muito mais capacitada para enfrentar os desafios do amanhã.

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