Jovens precisam confiar no processo
Vejo muitos jovens ansiosos por resultados imediatos. Querem o prédio pronto sem passar pelas fundações. Às vezes recusam experiências porque “não têm a ver” com o momento, como se cada passo precisasse ser glamouroso e diretamente útil. O paradoxo é que, quando recusamos experiências “imperfeitas”, também recusamos o repertório que sustenta resultados melhores lá na frente. Recentemente, um aluno me disse algo raro e maduro: queria aproveitar mais as oportunidades e confiar no processo. Soou como antídoto para a ansiedade de uma geração brilhante, mas por vezes impaciente.
Nas empresas, a cena se repete. Jovens talentos tecnicamente fortes desanimam quando o impacto não aparece em três semanas. Faltou explicar que resultados robustos nascem de ciclos: observar, testar, aprender, ajustar. Na Microsoft, SatyaNadella reposicionou a cultura para a mentalidade de crescimento: sair do ‘sabe-tudo’ (know-it-all) e adotar o ‘aprende-tudo’ (learn-it-all), onde curiosidade e feedback valem mais que certezas. Quando isso acontece, o estágio que parecia irrelevante vira laboratório; o projeto com uma área distante da sua pode virar ponte; a atividade de campo com um parceiro externo pode ser uma lente para problemas reais.
Na graduação da FDC, quando parceiros levam desafios concretos para a sala, o encontro entre mundos acelera essa compreensão. O caso que chega com dados incompletos, restrições de orçamento e prazos apertados ensina algo que não cabe no slide: a beleza de construir com o que há, do jeito possível. É a lógica que Ed Catmull descreve em Criatividade S.A.: as ideias nascem ‘bebês feios’, frágeis e imperfeitos, e precisam de proteção, franqueza e repetidas iterações para amadurecer. Projetos também são assim: começam tortos e ganham forma com feedback e disciplina; quem entende isso para de buscar o atalho perfeito e passa a dominar o ofício de melhorar.
O progresso, muitas vezes, é silencioso. Ele não depende de inspiração momentânea, e sim de regularidade: voltar ao texto, ajustar detalhes, decidir melhor a cada volta. É assim que o trecho mais monótono do processo prova seu valor.
Construir uma trajetória sólida é menos sobre deslumbrar no primeiro mês e mais sobre colecionar experiências que, juntas, formam uma tese pessoal: problemas que você sabe resolver, contextos onde floresce, valores que não negocia. Isso exige presença, constância e uma curiosidade que não se ofende com a lentidão. Você não precisa amar cada tarefa, mas precisa extrair algo de cada uma: uma ferramenta nova, uma pergunta melhor, um contato que vira parceria.
Se você está começando, ou ainda recomeçando, respire. Entre, participe, pergunte, entregue. Nem tudo fará sentido hoje, mas quase tudo pode ganhar sentido amanhã quando você olhar para trás e enxergar, nas camadas do caminho, a arquitetura do seu prédio. O importante é continuar construindo. E confiar que o caminho trabalha a nosso favor.
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