Limites que libertam
Há algumas semanas, uma bolsista me procurou aflita. Excelente aluna, participação destacada nos projetos, iniciação científica em andamento, mas com a sensação de que nada estava evoluindo como deveria. Reconheci ali algo comum entre alunos e jovens executivos: a crença de que dizer sim para tudo é sinônimo de ambição. Mas a realidade é que quase nunca é. Sem limites, a agenda pode até crescer, mas o aprendizado, não.
Vivemos um tempo em que a ansiedade empurra para o agora. A notificação não espera, a comparação está a um toque, e o Fomo (fear of missing out) provoca: parece que “ficar de fora” dói. Só que vamos viver mais e, ainda assim, nos comportamos como se a janela para aprender fosse de semanas. Quem tem vida longa precisa de estratégia longa. E estratégia longa pede escolhas: foco, descanso, tempo de maturação.
Aqui, vale praticar um pouco de Jomo (joy of missing out) que é a alegria consciente de escolher ficar de fora do que não serve. E, às vezes até adotar o Romo (relief of missing out): reconhecer serenamente que sim, vamos perder coisas e que isso pode ser saudável quando é uma escolha deliberada.
Com a bolsista, a conversa foi franca. Priorize o que é realmente urgente. Crie uma rotina mínima para o que quer cultivar: se a leitura de um livro importa, reserve o mesmo horário todos os dias. Falamos pouco de cortar sonhos e muito da capacidade de dizer não: não a convites sem propósito, não a tarefas que roubam energia, não ao impulso de abraçar tudo. Ao escolher menos, ela não vai diminuir a ambição, mas vai sim, ganhar clareza. E, com clareza, o avanço certamente aparecerá.
No trabalho, aprendo sempre na pele. Mesmo com a senioridade, ainda me pego em vários momentos que o dizer não é uma dificuldade enorme. Agora mesmo, estou em um processo de transição, acumulando despedidas e estreias, e ignorei sinais do corpo. Adoeci e quis seguir no ritmo. Achei que presença física resolveria, mas não resolveu. Hoje havia um evento importante e, ainda assim, parei. Doeu dizer não, mas foi o certo.
No fundo, dizer “não” é uma forma de dizer “sim” com mais verdade. Sim ao estudo que precisa de silêncio. Sim ao projeto que merece foco. Sim à saúde que sustenta a maratona. Se a ansiedade insistir que tudo é para já, respire: escolher menos é escolher melhor. Avance um pouco hoje, com presença. O resto, os seus limites bem definidos ajudam a construir.
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