Nem tudo será agora: processo de aprendizado dos jovens não pode ter pressa de chegar ao futuro sem viver o presente
Tenho ouvido, com frequência, jovens — e também seus pais — aflitos com a velocidade da própria formação. Mal iniciam o processo de aprendizado e já perguntam: “Quando vou aprender sobre liderança estratégica?”. “Já não deveria estar estudando inovação?”. São inquietações legítimas, mas que revelam um traço típico do nosso tempo: a pressa em chegar ao futuro antes mesmo de viver o presente.
Nascidos conectados, imersos num mundo hiperacelerado, os jovens de hoje foram educados para buscar impacto desde cedo. E isso é admirável. São ousados, engajados e desejam transformar o mundo com urgência. Mas é justamente aí que está o desafio: como canalizar essa potência sem que ela se transforme em ansiedade, frustração ou burnout?
A verdadeira liderança exige tempo. Não se forma em três dias, nem em cursos que prometem sucesso imediato. Constrói-se com camadas, tropeços e aprendizados que nem sempre aparecem no curto prazo. Famílias, escolas, empresas e a própria sociedade têm papel fundamental nesse processo.
Educar para o longo prazo é nadar contra a corrente do imediatismo. É construir degrau por degrau, mesmo sem ver o topo. É permitir que o jovem viva a dúvida, o erro, a espera. E mostrar que frustração não é fracasso — é parte da formação. Líderes fortes nascem, muitas vezes, dos momentos em que as coisas não saem como o esperado.
Temos, por vezes, a tentação de proteger nossos jovens do incômodo. Evitamos que sintam a dor da demora, a insegurança do não saber, o desconforto de não ser o melhor logo de início. Mas liderar exige casca. E casca só se forma no atrito. Não há atalhos para a construção de caráter, resiliência e coragem — pilares que sustentam líderes em tempos de instabilidade.
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Cabe também ao próprio jovem compreender que o amadurecimento leva tempo. Não é possível dominar tudo de uma vez, nem causar impacto verdadeiro sem antes consolidar valores, visão e autoconhecimento. Liderança exige paciência consigo mesmo — e disposição para crescer por dentro antes de brilhar por fora.
Nesse processo, as organizações têm um papel essencial. Precisam abandonar a lógica do “jovem pronto” e assumir o compromisso de formar talentos com consistência. Investir em desenvolvimento, oferecer espaço para erros construtivos e permitir ciclos de aprendizado genuínos são atitudes que não apenas preparam melhor os profissionais, como também fortalecem vínculos e geram líderes mais leais e preparados para os desafios reais.
Formar líderes para o amanhã exige coragem hoje. Coragem de resistir aos atalhos. De apostar no que ainda está em formação. De deixar que o tempo faça seu trabalho. Que sejamos todos mais pacientes, mais atentos à jornada, e conscientes de que nem tudo será agora. E tudo bem. Porque o que realmente vale, leva tempo mesmo.
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