Construindo o amanhã

Quando a vida muda os planos

Mudanças externas exigem reorganização interna

Tirei duas semanas de férias com um objetivo claro: avançar no doutorado. Planejei leituras, blocos de escrita, revisões. Era, para mim, um período precioso de foco, depois de meses intensos no trabalho. Mas bastaram alguns dias para tudo sair do lugar. Um problema de saúde na família me tirou completamente da rota: passei boa parte do tempo em hospitais, acompanhando exames, lidando com médicos e incertezas. O que seria um momento de mergulho intelectual se transformou num mergulho emocional. E profundamente humano.

Não foi fácil, mas me trouxe aprendizados que nenhuma bibliografia teria me ensinado. A vida é imprevisível, e mesmo a melhor organização não é capaz de conter tudo. Somos ensinados a controlar, planejar, entregar. Mas há momentos que nos pedem outra coisa: presença, empatia, aceitação.
Essa experiência me fez refletir sobre o quanto estamos acostumados a medir o valor do nosso tempo apenas pelo que conseguimos produzir. Quando não avançamos nas metas, sentimos culpa. Quando os planos mudam, sentimos frustração. E quando cuidamos, apenas cuidamos, muitas vezes sentimos que não fizemos “o suficiente”.

Mas será que não fizemos? Estar disponível, ser apoio, sustentar o outro quando ele precisa, também é realização. Também é liderança.

Me lembrei dos passos de mudança organizacional propostos por John Kotter, professor da Harvard Business School. Embora voltados ao mundo corporativo, alguns deles fazem sentido também na esfera pessoal. Criar um senso de urgência, por exemplo, nos ajuda a entender rapidamente o que realmente importa em tempos de crise. Construir uma coalizão de apoio é essencial quando não conseguimos seguir sozinhos. Ter uma visão clara, ainda que adaptada, nos mantém em movimento. E celebrar pequenas vitórias nos ajuda a sustentar a energia mesmo nos dias difíceis.

Mudanças externas exigem reorganização interna. E talvez a maior competência a desenvolver nesses momentos seja justamente essa: a de acolher a vida como ela é, com tudo o que traz, sem perder de vista quem escolhemos ser em meio a tudo isso.

No trabalho, assim como na vida pessoal, a liderança verdadeira não se manifesta apenas em cenários ideais. Ela aparece quando o caos bate à porta. Quando não há respostas prontas. Quando tudo o que temos é a nossa capacidade de escutar, adaptar e agir com humanidade.

Ser forte não é seguir em frente a qualquer custo. É saber parar quando necessário. É reconhecer o que importa. Às vezes, cuidar de quem amamos ou de nós mesmos é a tarefa mais urgente e nobre.
No fim, talvez a grande competência que nos falte desenvolver seja essa: a de acolher a vida como ela é, sem perder de vista quem escolhemos ser em meio a tudo isso. E isso, sem dúvida, nos torna líderes mais inteiros… e muito mais humanos.

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