Economia para Todos

O agronegócio brasileiro está em crise?

De fato, o agronegócio tem enfrentado desafios significativos

O Diretor Técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, recentemente comentou sobre a situação atual do agronegócio brasileiro, destacando que, embora o setor esteja enfrentando dificuldades, rotulá-lo como em crise generalizada é exagerado. Concordo com essa visão. Na imprensa, é comum encontrar um clima pessimista em relação ao presente e futuro do agro nacional, com destaque para o aumento dos pedidos de recuperação judicial.

De fato, o agronegócio tem enfrentado desafios significativos. Em 2023, apesar de ter começado o ano com uma safra excepcional que bateu recordes de produção, o setor passou por dificuldades. Os produtores rurais enfrentaram uma série de obstáculos, que perduram em 2024: quebra na safra de grãos, baixos preços das commodities, custos ainda elevados de produção e problemas logísticos.

Em relação à quebra na safra de grãos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma produção total de 294,1 milhões de toneladas, o que representa uma redução de 8% em comparação com a temporada anterior, devido, principalmente, à forte influência do El Niño. Já no aspecto logístico, destacam-se as dificuldades de armazenamento. A falta de espaço para armazenar os grãos é um desafio antigo e ainda mais pronunciado no Mato Grosso e nas novas fronteiras agrícolas, onde o aumento da produção resultou em déficits significativos na capacidade de armazenagem.

Quanto aos baixos preços das commodities, durante todo o ano de 2023 observamos uma queda acentuada nos preços dos principais produtos agrícolas. Isso pode ser explicado, em partes, pelo aumento na produção. Ocorre que os altos preços das commodities no biênio de 2020 e 2021 estimularam uma produção acima do crescimento da demanda, resultando em uma diminuição nos preços. Além disso, os produtos brasileiros são negociados nos mercados internacionais e a expectativa de um crescimento econômico global mais fraco para 2024 está reduzindo suas cotações.

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Diante desse panorama, é compreensível que o pessimismo seja difundido, colocando em xeque a histórica resiliência do setor. No entanto, é fundamental considerar alguns pontos para evitar que nos deixemos influenciar por narrativas excessivamente negativas, às quais podem ter efeitos prejudiciais, especialmente na confiança do mercado.

Em primeiro lugar, é importante reconhecer que o agronegócio é uma atividade marcada por ciclos, com períodos de crescimento robusto seguidos por fases de retração na produção. Entre 1996 e 2023, conforme dados da Conab, o setor experimentou 13 anos de queda no PIB e 15 anos de crescimento, evidenciando sua dinâmica cíclica. Além disso, embora as notícias sobre pedidos de recuperação judicial de empresas do agronegócio estejam causando preocupação, é crucial ressaltar que o número de casos é relativamente pequeno em comparação ao total. Dos 5 milhões de produtores rurais no País, apenas 400 mil respondem por 86% de todo o valor bruto da agropecuária. Segundo dados do Serasa Experian, menos de 150 produtores entraram com pedido de recuperação judicial no último ano, uma parcela ínfima diante do universo representativo do setor.

No que diz respeito aos preços das commodities, é importante entender que eles também seguem um padrão cíclico. Nos últimos 20 anos, o mercado de soja, por exemplo, experimentou três períodos de margens operacionais excepcionais, ultrapassando os 60%. Cada um desses momentos durou de 2 a 3 anos, impulsionando avanços na capacidade de produção. No entanto, essas fases de alta rentabilidade foram seguidas por períodos de ajuste, muitas vezes ligados a crises no setor. Atualmente, nos encontramos exatamente nesse ponto do ciclo, com os produtores rurais vendo suas margens despencarem.

Apesar dos desafios, o agronegócio brasileiro ainda é estratégico para a economia do país, respondendo por 24% de toda a riqueza gerada. Não há outro setor no Brasil que seja tão competitivo e internacionalizado quanto este. Portanto, é improvável que enfrentemos um problema estrutural. Essa “crise” pode ser vista como um ponto baixo no ciclo econômico, com desdobramentos conjunturais que afetam uma parte do setor, mas não comprometem sua solidez como um todo.

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