Brasil vive dejá vù com PIB positivo, mas alerta estrutural
Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2023. O indicador, que representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no País, manteve-se estável, frenteao trimestre anterior, marcando o segundo trimestre consecutivo de desempenho fraco. Apesar dessa estabilidade, ao longo do ano, o PIB registrou um crescimento de aproximadamente 3%.
Em relação aos setores econômicos, a agropecuária foi a grande protagonista, mostrando que, de fato, é o motor do Brasil. Com um crescimento de 15,1%, grande parte desse desempenho ocorreu durante o primeiro semestre de 2023. Já a indústria cresceu 1,6%, impulsionada principalmente pela indústria extrativa. O setor de serviços, que havia crescido mais de 4% em 2021 e 2022, teve um aumento mais modesto, de 2,4%, impulsionado pelas atividades financeiras, imobiliárias, de informação e transporte.
Sob a perspectiva da demanda, houve uma queda de 3% na Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida que avalia os investimentos produtivos. Esse declínio pode ser atribuído à política monetária restritiva, à falta de confiança na situação econômica e aos antigos problemas estruturais do País, que contribuem para o que chamamos de ‘Custo-Brasil’. Por outro lado, o Consumo das Famílias aumentou 3,1%, graças aos programas governamentais de transferência de renda, à melhoria contínua do mercado de trabalho e à menor pressão sobre os preços. Os gastos do governo cresceram 1,7%, enquanto as exportações aumentaram 9,1%. Por outro lado, as importações diminuíram 1,3%.
Com o resultado agregado favorável, a economia brasileira recuperou sua posição entre as dez maiores do mundo. O crescimento é notável e se reflete em várias métricas observáveis no mercado. Talvez a mais evidente seja a criação de empregos, acompanhada pelo aumento da massa salarial, atingindo níveis recordes. No entanto, é importante destacar as fragilidades por trás desses números. Embora colhamos os frutos do que é positivo, é crucial manter esse resultado favorável no longo prazo.
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Por anos, o crescimento do PIB brasileiro tem sido impulsionado pelo consumo. No entanto, sem um investimento produtivo que o acompanhe, esse tipo de crescimento se torna insustentável e pode levar a pressões inflacionárias. O declínio na Formação Bruta de Capital Fixo sugere uma redução na capacidade produtiva nacional. Essa dinâmica, caracterizada pelo crescimento na demanda e pela diminuição na capacidade de produção, cria condições ideais para pressões sobre os preços. A taxa de investimento tem sido insuficiente até mesmo para compensar a depreciação do parque produtivo, como evidenciado pelo declínio de 9,4% no segmento de máquinas e equipamentos e 0,2% na construção.
Para reverter esse cenário, é crucial manter o foco na melhoria do ambiente de negócios. Reformas estruturais, como a tributária, e investimentos em infraestrutura, são passos essenciais para destravar a alocação de capital em projetos importantes. É fundamental que o governo atue nesse sentido, mas com cautela, dado o espaço limitado nas contas públicas. Não se pode, também, lançar mão de programas ineficientes, que desvirtuem o ambiente de negócios.
Por último, é importante ressaltar o comportamento da taxa de poupança. Depois de uma aceleração nos anos de 2020 e 2021, atingindo um pico de 17,1% do PIB nos últimos dez anos, a taxa de poupança diminuiu nos dois anos seguintes, chegando a 15,4% do PIB em 2023. Esse movimento, juntamente com as quedas sucessivas nos investimentos, mais uma vez coloca em dúvida o crescimento sustentável de longo prazo da economia brasileira. Afinal, a redução da taxa de poupança dificulta a ampliação dos investimentos, os quais são essenciais para impulsionar o crescimento de forma sustentada.
A consolidação fiscal e as reformas pró-mercado são medidas necessárias para fortalecer essas duas métricas. As reformas microeconômicas implementadas nos últimos anos foram importantes para pavimentar o caminho. Portanto, é essencial retomar essas ações e evitar aquelas que comprometam a sustentabilidade fiscal, geram insegurança jurídica e promovam instabilidade econômica.
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