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O cabo de guerra entre as políticas fiscal e monetária: uma análise da ata do BC

Aumento da taxa Selic em 0,50 ponto percentual, fixando-a em 11,25% ao ano, reflete a necessidade de enfrentamento de pressões inflacionárias persistentes

Na última semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, fixando-a em 11,25% ao ano. A decisão, tomada por unanimidade, reflete a necessidade de enfrentamento de pressões inflacionárias persistentes, expectativas desancoradas e um mercado de trabalho robusto que mantém aquecida a demanda interna.

Em ata divulgada, o Comitê elencou sua avaliação e perspectivas para os próximos passos.
No plano internacional, a conjuntura continua complexa. A economia dos Estados Unidos segue com alta incerteza quanto à desaceleração e à desinflação, o que tem levado o Federal Reserve a ajustar gradualmente suas taxas de juros. A China, por sua vez, enfrenta desafios estruturais em seu crescimento, afetando as expectativas globais e gerando impactos sobre países emergentes, como o Brasil. Esse ambiente, combinado com uma política fiscal ainda estimulante nas maiores economias, adiciona volatilidade ao mercado financeiro global, elevando o prêmio de risco e demandando maior cautela por parte das economias emergentes.

O Copom também destacou a tendência de menor sincronia entre os ciclos de política monetária ao redor do mundo. As respostas dos bancos centrais têm se mostrado cada vez mais dependentes das condições específicas de cada país, tornando o cenário internacional menos previsível. Esse movimento traz desafios adicionais para o Brasil, que precisa adaptar sua política monetária sem perder de vista os riscos inflacionários internos.

No contexto doméstico, o Brasil apresenta um mercado de trabalho aquecido, com baixas taxas de desemprego e dinamismo nas contratações. Esse cenário contribui para uma inflação de serviços resistente, já que a demanda interna se mantém elevada. Além disso, políticas fiscais expansionistas e a forte concessão de crédito ao consumo impulsionam a demanda, dificultando o processo de desinflação.

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Um destaque especial foi dado à necessidade de um arcabouço fiscal robusto e crível. O Copom alertou que a percepção de instabilidade fiscal ou de um crescimento desordenado dos gastos públicos pode elevar a taxa de juros neutra da economia, ou seja, o nível de juros que não acelera nem desacelera a inflação. Um ambiente fiscal previsível e disciplinado é essencial para a ancoragem das expectativas e para reduzir o prêmio de risco dos ativos domésticos, o que também facilita a atuação da política monetária.

A mensagem central do Comitê é clara: ele está determinado a tomar as decisões necessárias para garantir a convergência da inflação à meta e preservar a credibilidade da política monetária. Quanto maior a divergência entre a política fiscal e a monetária, maior a pressão sobre os juros, intensificando os custos econômicos. Nesse cabo de guerra, quem realmente perde é o setor produtivo – ou, em última análise, os próprios brasileiros, que arcam com os impactos na renda, no emprego e no custo de vida.

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