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Câmbio, campo e inflação: pilares da análise macroeconômica

No Brasil, com o agronegócio, essa conexão é ainda mais relevante

A relação entre câmbio e inflação é um dos pilares da análise macroeconômica. No Brasil, onde a produção agropecuária desempenha papel central na formação de preços e na balança comercial, essa conexão é ainda mais relevante. Dados do Censo Agropecuário de 2017, mostraram que mais da metade dos custos da produção rural está vinculada, em algum grau, à taxa de câmbio. Esse vínculo tem implicações diretas não apenas sobre os produtores, mas sobre o comportamento da inflação, sobretudo no grupo de alimentação no domicílio que é mais sensível às oscilações cambiais.

Uma parcela significativa dos insumos utilizados no setor agropecuário é importada ou cotada em dólar. Sal e rações, fertilizantes, defensivos agrícolas, combustíveis e lubrificantes são exemplos de itens que representam, sozinhos, entre 40% e 44% dos custos totais da produção agropecuária, a depender do segmento analisado. Mesmo na agricultura familiar, que em tese é menos integrada ao mercado internacional, a exposição ao câmbio é expressiva: 40% dos custos estão diretamente ligados à variação cambial, além de outros 19% que têm algum grau de dependência.

Esse elevado grau de dolarização dos insumos torna a produção agrícola particularmente vulnerável em períodos de depreciação cambial, como agora. O reflexo é imediato, visto que os custos mais altos tendem a ser repassados aos preços finais, especialmente nos mercados de alimentos, onde a elasticidade da demanda é baixa e os mecanismos de substituição são limitados no curto prazo.

O efeito inflacionário desse repasse é evidente. Segundo estimativas do Banco Central, uma depreciação de 10% na taxa de câmbio pode elevar a inflação de alimentos em domicílio em 1,4 ponto percentual, no acumulado de quatro trimestres. O impacto é substancialmente maior do que o observado em outros grupos de preços livres, como bens industriais e serviços. No caso do IPCA geral, o efeito da mesma depreciação é entre 0,5 e 1 ponto percentual.

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A taxa de câmbio, embora muitas vezes tratada como um preço relativo entre moedas, exerce papel determinante na dinâmica inflacionária doméstica, sobretudo em um país de estrutura produtiva altamente exposta à variação do dólar. Para a política monetária, isso impõe desafios adicionais: o controle da inflação, especialmente em momentos de choques cambiais, depende não apenas da taxa básica de juros, mas da coordenação com políticas fiscais e comerciais que promovam maior resiliência da cadeia produtiva.

Num cenário de instabilidade cambial, portanto, a inflação de alimentos se torna não apenas uma variável econômica, mas um fator social relevante, com impacto direto sobre o poder de compra das famílias, sobretudo as de menor renda. Para agravar ainda mais nossos desafios internos, a guerra comercial em curso pode trazer volatilidade adicional a essa dinâmica, dificultando ainda mais a eficácia das políticas econômicas.

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