Carry trade ajuda a explicar Bolsas despencando em todo o mundo; entenda
Essa semana começou nebulosa para os mercados financeiros de todo o mundo. Bolsas de economias avançadas e emergentes abriram e encerraram os pregões no vermelho. Diante disso, não faltavam explicações sobre o porquê do “mar de sangue”: seria decorrente dos sinais de uma possível recessão nos EUA? Da escalada da guerra no Oriente Médio? Da elevação do risco político em todo o mundo? Eu diria que um pouco de tudo, mas acrescentaria algo: o carry trade.
De forma direta, carry trade é uma forma de arbitragem. É especular com moedas e juros em países diferentes. Em uma explicação mais completa, o carry trade é uma estratégia de investimento que envolve tomar empréstimos em uma moeda com taxas de juros baixas e usar os recursos obtidos para investir em uma moeda com taxas de juros mais altas. O objetivo é lucrar com a diferença entre as taxas. Essa técnica é comum no mercado de câmbio e usada tanto por investidores institucionais quanto pessoas físicas.
A relevância do carry trade está na sua capacidade de gerar retornos consistentes e previsíveis. Em um cenário econômico onde as taxas de juros são baixas em uma moeda e altas em outra, o carry trade pode oferecer uma oportunidade atraente de lucro. Os investidores se beneficiam não apenas da diferença nas taxas de juros, mas também das possíveis variações nas taxas de câmbio entre as moedas envolvidas. E é isso que vem ocorrendo há, pelo menos, duas ou três décadas com o Japão e o resto do mundo.
O Japão é conhecido como o país do juro zero – e, em muitas ocasiões, do juro negativo. Era considerado um paraíso para investidores que queriam utilizar-se do carry trade para obter ganhos no mercado mundial. Pegava-se dinheiro emprestado no país do sol nascente, a um custo pífio ou inexistente, e investia-se em países com taxas de juros mais elevadas, obtendo um retorno – praticamente todo o resto do mundo e, especialmente, no Brasil; afinal, se tem algo que virou praticamente um animal de estimação é o nosso juro alto.
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Estima-se que o volume de operações de carry trade no Japão estava entre US$ 3 e US$ 4 trilhões. Mas aí, o caldo entornou. Se antes o país asiático tinha juro zerado ou próximo a isso, o Banco Central de lá (BoJ) resolveu elevar sua taxa básica para 0,25%. Ademais, a autoridade monetária japonesa sinalizou que pretende continuar com uma política monetária contracionista, com maiores intervenções no câmbio, buscando valorizar ainda mais o iene. Com o aumento dos juros e o fortalecimento da moeda japonesa, o custo das operações cresceu, forçando investidores a liquidar ativos para quitar suas dívidas em iene.
Creio que esse episódio reforça a noção de que, em um mundo cada vez mais conectado e globalizado, ações isoladas reverberam por todas as economias. A elevação dos juros no Japão altera dinâmicas de investimento global, evidenciando a interdependência dos mercados financeiros.
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