Criticar os juros altos é ignorar a complexidade de suas causas
O presidente da República frequentemente tece críticas ao Banco Central por causa da elevada taxa de juros, considerada um obstáculo ao crescimento econômico. No entanto, os juros refletem as condições econômicas do País, sendo uma ferramenta usada pela autoridade monetária para controlar a inflação, estabilizar a moeda e regular a atividade econômica.
É fato que juros altos encarecem o crédito, dificultando investimentos e consumo. Isso reduz a capacidade de expansão dos negócios e a compra de bens duráveis. Além disso, o custo da dívida pública aumenta, pois o governo paga mais juros sobre os títulos emitidos, comprometendo o orçamento e reduzindo o investimento em áreas essenciais. Juros elevados também atraem capital especulativo, gerando volatilidade no mercado sem necessariamente contribuir para o investimento produtivo de longo prazo.
Porém, há uma confusão comum entre a Selic e os juros de mercado. Apenas uma pequena parcela do crédito está indexada à Selic; a maioria está vinculada aos juros de mercado, formados pelas interações entre agentes econômicos e suas percepções de risco. A Selic, fixada pelo BC, se aplica a operações de curtíssimo prazo, enquanto os juros para períodos mais longos são determinados pelo mercado e influenciados pelo cenário macroeconômico.
Forçar uma queda na Selic sem políticas fiscais e monetárias credíveis resulta no efeito oposto: os juros de mercado, de médio e longo prazos, sobem. Em 2011, por exemplo, a redução da Selic de 12% para 7,25% desacelerou o crescimento do crédito. Posteriormente, os juros subiram para 14%, e o crédito desacelerou ainda mais. Para que a redução da Selic seja eficaz, é necessária credibilidade e consistência nas políticas.
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Há tempos o Brasil vem lutando contra a inflação, fruto de uma série de políticas fiscais desajustadas e choques de oferta. O alto endividamento do governo aumenta o risco percebido pelos investidores, exigindo prêmios mais altos e resultando em juros maiores. Instabilidade política e incerteza econômica, alimentadas por crises institucionais e políticas inconsistentes, aumentam o risco-país e, mais uma vez, as taxas de juros. A baixa produtividade da economia também limita o crescimento, exigindo políticas monetárias mais restritivas para evitar superaquecimento e inflação.
Problemas estruturais também contribuem para os juros altos. A complexidade do sistema tributário desincentiva investimentos e aumenta os custos operacionais. A falta de investimentos em infraestrutura reduz a eficiência logística. A baixa qualidade da educação e a falta de qualificação da força de trabalho restringem a produtividade e a inovação, essenciais para o crescimento sustentável e a redução das taxas de juros a longo prazo.
Os juros altos no Brasil são um reflexo de problemas econômicos estruturais e conjunturais. Criticá-los isoladamente é ignorar a complexidade de suas causas. Para reduzir as taxas de juros de forma sustentável, o Brasil precisa de um compromisso contínuo com reformas.
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