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Dissecando o PIB: resultado positivo, com o alerta estrutural

Na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) liberou os números referentes ao Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2023. O indicador, que representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no País, apresentou um crescimento de 0,1% em comparação com o trimestre anterior. Apesar de modesto, esse percentual superou as expectativas do mercado, que previa uma queda.

Em relação aos setores econômicos, indústria e serviços foram os protagonistas do resultado positivo, tendo, cada um, apresentado um crescimento de 0,6%. Por outro lado, o setor agropecuário, que vinha sustentando o crescimento robusto da atividade econômica, retraiu 3,3%, atingido por fatores sazonais.

Sob a perspectiva da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida que avalia os investimentos produtivos, registrou uma queda de 2,5%. Esse declínio marca a quarta redução consecutiva e é resultado da política monetária restritiva e da baixa confiança na conjuntura econômica.

Em contrapartida, o Consumo das Famílias apresentou um aumento de 1,1%, fruto dos programas governamentais de transferência de renda, da contínua melhoria do mercado de trabalho e da menor pressão sobre o nível de preços.

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A boa notícia que podemos extrair desses números é que conseguimos evitar uma retração, mesmo diante da desaceleração evidenciada em algumas atividades. Esse fato assume especial relevância para o governo e seus anseios políticos. No entanto, é crucial destacar que o resultado do PIB envolve considerações qualitativas importantes, essenciais para avaliar a sustentabilidade do seu crescimento no longo prazo.

Como diz o ditado “o diabo mora nos detalhes”. E aqui, esses detalhes foram ofuscados pela surpresa positiva do crescimento. Mas o diagnóstico pormenorizado dos dados é de que o País não tem recursos para impulsionar a economia para um crescimento sustentável ao longo do tempo. Isso se deve ao fato de que nossa taxa de poupança permanece em níveis muito baixos. Para contextualizar, o período recente com a maior porcentagem nessa métrica foi entre 2005 e 2009, alcançando quase 21%.

Atualmente, estamos em 15,7%. O mesmo padrão se repete nos investimentos, com uma taxa média de 16% em 2023. Com menos recursos disponíveis e baixos níveis de investimentos, é difícil esperar um crescimento médio do PIB acima de 2% nos próximos anos.

De forma simplista, poderíamos supor que uma simples redução nas taxas de juros seria suficiente para impulsionar os investimentos. Em parte, isso é verdade, mas não oferece uma solução duradoura. Basta observar nossa história para perceber que, independentemente do cenário de juros, os investimentos permanecem em níveis muito baixos. Além disso, qual seria o custo de uma redução nas taxas de juros?

O ambiente fiscal e econômico permitiria manter essas taxas em patamares baixos por tempo relevante?

Existe confiança suficiente nessa abordagem?

Falando em confiança, ela desempenha um papel crucial como impulsionador de outro fator contributivo para um crescimento sustentado, que é a atração de poupança externa. A entrada desses recursos é essencial, caso o País queira superar sua poupança interna em termos de investimentos. Nesse contexto, é necessário que investidores estrangeiros enxerguem oportunidades no Brasil e tragam seus recursos para cá. No entanto, isso sempre foi um desafio, como evidenciado no fato de que a participação máxima atingida pelo investimento externo foi cerca de 4,5% do PIB – e hoje gira em torno de 2,9%.

Sem regras claras, estáveis, transparentes e críveis, o investimento produtivo fica comprometido. Sem investimento, a economia não consegue expandir sua capacidade de oferecer produtos e serviços e, sem essa expansão, acabamos por limitar o crescimento futuro. Os dados do PIB brasileiro, até então, foram bons, revelando que em 2023 cresceremos cerca de 3%. Porém, eles sinalizam um futuro de crescimento baixo e instável. Retomar a confiança é fundamental, mas, para isso, é preciso atacar problemas estruturais.

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