Economia da atenção: excesso de informação não quer dizer mais conhecimento
Desde o início da minha trajetória profissional, trabalho com dados e informações. Já lidei com dados primários e secundários, microdados, pequenos volumes de informação e temas variados. Sempre, é claro, com foco em economia, finanças e investimentos.
Algo que sempre constatei é que a abundância de informações não se traduz, necessariamente, em maior conhecimento. Ao contrário, o excesso de estímulos nos obriga a selecionar o que merece ou não nossa atenção. E é exatamente aí que nasce o conceito de Economia da Atenção, termo cunhado em 1970 pelo economista Herbert Simon. Em termos estritamente econômicos, estamos falando de um recurso escasso (a atenção humana), disputado por múltiplos agentes (empresas, plataformas, anunciantes, políticos), e alocado sob critérios que nem sempre são conscientes.
A atenção, diferentemente de outros insumos tradicionais da economia, não é acumulável nem escalável. Ela é limitada biologicamente. Afinal, temos apenas 24 horas por dia, com um cérebro sujeito à fadiga, distrações e impulsos. Nesse cenário, cada notificação, cada vídeo recomendado, cada manchete apelativa concorre por segundos preciosos da nossa capacidade cognitiva. Essa lógica transformou o modelo de negócios de diversas indústrias, especialmente a de tecnologia e comunicação.
Não por acaso, empresas como Google, Meta e TikTok construíram impérios ao mapear e explorar nossos padrões de atenção. O produto não somos mais nós, enquanto consumidores no sentido tradicional, mas, sim, o nosso tempo de permanência em telas e plataformas. Essa métrica, muitas vezes mascarada por promessas de conectividade ou personalização, alimenta algoritmos cujo único objetivo é nos manter engajados e, portanto, expostos a publicidade ou a mecanismos de coleta de dados comportamentais.
Do ponto de vista macroeconômico, isso levanta uma série de implicações. Primeiro, a alocação ineficiente da atenção pode gerar externalidades negativas, como a deterioração da saúde mental, a polarização política e o declínio da produtividade. Segundo, surge uma nova assimetria de informação: empresas que dominam dados sobre como capturar nossa atenção operam com uma vantagem sistêmica, distorcendo a concorrência em diversos setores. Ademais, há um desafio ético-regulatório que começa a ganhar corpo em diversos países, com discussões sobre proteção de dados, tempo de tela por crianças e o poder dos algoritmos.
Será que, em algum momento, iremos tratar nossa atenção com o mesmo zelo com que cuidamos de nossos ativos financeiros? Afinal, em um mundo saturado de estímulos, saber escolher o que ignorar pode ser mais valioso do que saber o que consumir. Creio que esse seja um bom objeto de estudo: entender como se comporta um mercado em que o bem mais escasso é justamente aquele que não se pode comprar, apenas conquistar: a atenção humana. Atenção esta que, por sinal, consegui fisgar com esse texto.
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