O dilema chinês: economia da China apresenta sinais de esgotamento
A economia chinesa, por décadas um motor de crescimento global, hoje exibe sinais inequívocos de esgotamento de seu modelo. Com desafios que lembram a estagnação japonesa, o país se vê pressionado por uma dívida elevada, um excesso de capacidade industrial e uma demanda interna persistentemente fraca.
A raiz da crise remonta a 2015, quando, para combater uma retração econômica, Pequim orquestrou um grande programa de incentivo ao setor imobiliário. Uma década e US$ 900 bilhões depois, o estouro dessa bolha de investimentos deixou um legado de endividamento total superior a 300% do PIB e a perda de um de seus principais motores de crescimento. O manual de 2015, focado em investimento, saturou.
Com a queda do setor imobiliário, o capital e o esforço de investimento foram redirecionados, transformando o excesso de capacidade de um setor para outro. A China passou a criar um novo excedente, desta vez no setor industrial, com foco em áreas politicamente favorecidas como veículos elétricos, painéis solares e baterias. O resultado foi uma superprodução que nem mesmo o mercado externo consegue absorver, especialmente diante de novas barreiras protecionistas na Europa e do tarifaço de Donald Trump. Internamente, essa superoferta deflagrou uma guerra de preços predatória em setores como o de carros elétricos, corroendo as margens de lucro e levando o Presidente Xi Jinping a lançar uma política para conter a concorrência destrutiva.
Esse cenário é corroborado por recente relatório do Banco Mundial, que destaca os desafios estruturais enfrentados pelo país: uma desaceleração no crescimento da produtividade, o alto endividamento e o envelhecimento da população, fatores que devem restringir o crescimento a médio prazo. O estudo aponta que, embora a economia tenha mantido um crescimento resiliente no início do ano, a demanda do consumidor permanece contida, refletindo a fraca confiança das famílias e o impacto negativo da crise imobiliária.
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A alternativa óbvia seria estimular o consumo para reequilibrar a economia e evitar um ciclo de baixo crescimento e deflação, como ocorreu no Japão. Contudo, essa não é uma tarefa simples, pois o baixo consumo é uma peça fundamental do modelo econômico chinês, que usa a renda das famílias para subsidiar o crescimento industrial. Mudar esse sistema exigiria uma transformação profunda que Pequim parece querer adiar.
Enquanto a mudança estrutural não vem, a China enfrenta um dilema. As ferramentas para impulsionar o crescimento são limitadas, com juros próximos de 3% e sinais de deflação. Insistir em aumentar a oferta sem fortalecer a demanda agrava o problema, com riscos para o emprego. Sem uma aposta no consumo familiar, o país corre o risco de apenas transferir seu excesso de capacidade entre setores, preso em um ciclo de retornos decrescentes.
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