O encolhimento da bolsa
Enquanto o Ibovespa alcança patamares recordes, o Brasil assiste a uma preocupante debandada de suas empresas de capital aberto. Desde 2023, 32 companhias deixaram a bolsa, e grandes nomes como Neoenergia, JBS e Carrefour estão entre as que optaram pelo fechamento de capital. Essa tendência de encolhimento, que levou o número de empresas listadas de 579 em 1990 para pouco mais de 300 em 2024, não é apenas um sinal de fragilidade do nosso mercado de capitais, mas uma ameaça direta ao desenvolvimento econômico e social do País.
O fenômeno é impulsionado por uma combinação de fatores. O alto custo de permanência na bolsa e o ambiente de juros persistentemente elevados tornam a vida das companhias listadas cada vez mais desafiadora. Além disso, a percepção de que muitas ações estão “baratas demais” incentiva controladores a promoverem OPAs para recomprar as ações e fechar o capital, buscando maior flexibilidade operacional e redução de custos.
O problema é que cada empresa que deixa a B3 representa a perda de um pilar de sustentação para a economia nacional. Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) para a Abrasca, que analisou 270 das maiores companhias abertas, revela a dimensão de sua relevância: em 2024, elas foram responsáveis por gerar R$4,1 trilhões em riqueza para a sociedade, distribuídos em três pilares.
No plano Econômico e Social, as grandes empresas listadas são motores de crescimento. Elas atuam como âncoras de cadeias produtivas, gerando riqueza para milhares de fornecedores e remunerando o trabalho de forma qualificada. As 270 empresas analisadas movimentaram R$ 3 trilhões em pagamentos a fornecedores. A JBS, por exemplo, demonstrou ser a maior em compras de insumos (R$ 327 bilhões) e em remuneração ao pessoal (R$ 53,4 bilhões). Além disso, elas oferecem empregos de melhor qualidade, com um salário médio 2,8 vezes superior à média nacional. A saída dessas companhias da bolsa significa menos investimentos de longo prazo, menor difusão tecnológica e um enfraquecimento do poder de alavancagem de toda a cadeia produtiva.
No âmbito Tributário, essas corporações são as principais financiadoras do Estado. Em 2024, o grupo das 270 maiores recolheu R$ 640 bilhões em impostos, taxas e contribuições, o que representa 23% da arrecadação corporativa total do País. Além do impacto direto, o estudo projeta que a riqueza gerada por essas empresas induz mais R$ 660 bilhões em impostos indiretos ao longo de suas cadeias.
O enfraquecimento da B3 é um sintoma da instabilidade macroeconômica, da falta de um ambiente de negócios com regras estáveis e do alto custo de capital. É imperativo promover o equilíbrio, garantir segurança jurídica e institucional, e criar um ambiente que estimule, em vez de penalizar, o investimento de longo prazo. Como bem resume Pablo Cesário, presidente-executivo da Abrasca: “Fortalecer o mercado de capitais é fortalecer o Brasil”.
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