Economia para Todos

Entenda o princípio da externalidade de redes e como ele fomenta a ascensão de veículos elétricos

Princípio econômico está impulsionando a transformação do mercado de veículos do Brasil e do mundo

Por trás da ascensão acelerada dos veículos elétricos, que vêm ocupando ruas e manchetes no Brasil e no mundo, há mais do que avanços tecnológicos ou incentivos fiscais. Há um princípio econômico impulsionando essa transformação e que irei abordar aqui: a externalidade de rede.

Externalidades de rede ocorrem quando o valor de um bem ou serviço para um indivíduo cresce conforme mais pessoas o utilizam. É o que ocorre, por exemplo, com redes sociais. Quanto mais usuários, mais útil se torna a plataforma. O mesmo mecanismo tem sido fundamental para explicar o salto dos veículos elétricos.

Nesse caso, o efeito de rede se manifesta de forma indireta. Um carro elétrico, por si só, oferece benefícios individuais, como menor custo por quilômetro rodado. Mas seu verdadeiro valor cresce quando há uma infraestrutura ampla e integrada ao seu redor, como estações de recarga compatíveis, oficinas especializadas, fornecimento estável de peças e softwares de navegação otimizados. Quando um país atinge certa massa crítica de veículos elétricos em circulação, todo o ecossistema tende a florescer. Novos investidores se animam, empresas expandem serviços complementares, e o consumidor se sente mais seguro ao migrar.

Esse fenômeno ficou evidente no Brasil, onde os veículos elétricos, impulsionados pela entrada de modelos mais acessíveis, sobretudo chineses, passaram de raridade a realidade cotidiana em poucas temporadas. Em 2024, o mercado nacional foi inundado por veículos importados da Ásia, principalmente de marcas como BYD, GWM e outras novatas para o público brasileiro. Contudo, o que parecia um caminho natural de difusão começou a enfrentar obstáculos políticos.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Países da Europa, os Estados Unidos e, mais recentemente, o Brasil, passaram a discutir a imposição de tarifas e cotas de importação, sob o argumento de proteger suas indústrias locais frente ao avanço chinês. Em paralelo, governos buscam desenvolver ecossistemas domésticos de produção e inovação, o que é legítimo do ponto de vista estratégico, mas interfere diretamente no processo de consolidação dos efeitos de rede.

Nesse contexto, o sucesso dos carros elétricos não depende apenas da qualidade dos veículos, mas da articulação de uma infraestrutura coletiva que precisa crescer em sincronia. Tarifas protecionistas podem frear esse crescimento, ao criar um ambiente fragmentado, onde diferentes padrões competem e consumidores ficam inseguros sobre qual tecnologia “vingará”.

O desafio, portanto, é compreender que o valor dos veículos elétricos não reside apenas em seus benefícios individuais, mas na teia de interações que se forma ao redor deles e que cresce à medida que mais atores se somam a ela. Reconhecer esse fenômeno é importante para que decisões de política pública e estratégias industriais estejam sintonizadas com a lógica de um mercado em rede. Dinâmico, interconectado e sensível a movimentos de escala.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas