Economia para Todos

Geração nem-nem: ‘geração Nutella’ ou produto da desigualdade?

Grupo é motivo de preocupação em muitos países, onde a escassez de oportunidades educacionais e de emprego pode resultar em sérios problemas sociais e econômicos

A geração “nem-nem” abrange jovens que não estudam nem trabalham. Este grupo é motivo de preocupação em muitos países, onde a escassez de oportunidades educacionais e de emprego pode resultar em sérios problemas sociais e econômicos. Embora o Ministério do Trabalho tenha relatado uma ligeira redução no número de jovens “nem-nem” no primeiro trimestre de 2024, ainda há muito a ser feito para enfrentar essa questão de maneira eficaz. Este texto visa esclarecer as estatísticas relacionadas a esse grupo e os impactos dessa realidade.

Contrariando a visão simplista de que esses jovens pertencem a uma “geração Nutella”, a realidade é que essa situação é resultado de fatores conjunturais e, sobretudo, estruturais. Há deficiências relevantes no sistema educacional e no mercado de trabalho. Não há uma correspondência adequada entre os jovens formados ou em formação e as atividades com perspectivas de crescimento. Além disso, a desigualdade, tão presente no Brasil, agrava essa situação.

As dificuldades enfrentadas para transitar da escola para o mercado de trabalho no início da vida adulta podem ter consequências duradouras. Quanto mais tempo um jovem permanece nesta situação, mais difícil é sair dela. Esta condição estrutural, alicerçada na desigualdade, aumenta a vulnerabilidade social e impacta a economia nos médio e longo prazos.
Atualmente, 4,6 milhões de jovens no Brasil estão sem emprego, sem estudar e sem perspectivas. A pouca atenção dada ao chamado ‘boom demográfico’ faz com que agora enfrentemos o desafio do envelhecimento da população, sem estarmos preparados para isso.

Hoje, existem 34 milhões de brasileiros entre 14 e 24 anos. Desses, 12 milhões apenas estudam, sem exercer alguma atividade laboral. Além dos quase 5 milhões que não estudam nem trabalham, outros 3,2 milhões encontram-se desocupados.

É importante notar que, mesmo entre os jovens empregados, muitos enfrentam condições precárias. A informalidade do mercado de trabalho brasileiro atinge 40% dos ocupados, ao passo que, para os jovens, esse índice chega a 45%, representando 6,3 milhões. Essa alta informalidade reduz a produtividade, a qualificação e a renda. Outro aspecto que chama atenção é que boa parte (86%) dos jovens ocupados estão exercendo atividade em ocupações consideradas de baixa perspectiva. Em uma era marcada pela inteligência artificial, o trabalho como repositor, motoboy, caixa, escriturário e recepcionista ainda predomina nessa faixa.

É evidente que enfrentamos muitas fragilidades e desafios tanto no nosso sistema educacional quanto no mercado de trabalho. Se desejamos nos tornar um país de primeiro mundo, precisamos abordar esse problema com seriedade. Não podemos adiar essa questão, pois a transição demográfica está acontecendo rapidamente, e os benefícios de políticas públicas só são visíveis a médio e longo prazos.

No próximo texto, retomarei este tema apresentando algumas soluções possíveis para combater esta realidade.

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