Economia para Todos

Importações não reduzem o PIB

Dizer que as importações derrubam o PIB, por si só, é muito simplista

Na última semana, alguns veículos de imprensa divulgaram que a queda do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre de 2025 teria sido causada por um excesso de importações. Embora essa interpretação pareça intuitiva, ela revela, a meu ver, um equívoco conceitual recorrente, originado da forma como o PIB é calculado matematicamente.

A fórmula clássica do Produto Interno Bruto pela ótica da demanda agregada é:
PIB = C + I + G + (X – M)

Em bom português, a riqueza gerada dentro de um país, em determinado período, é igual à soma do consumo das famílias (C), dos investimentos produtivos (I), dos gastos do governo (G) e do saldo entre exportações e importações (X – M), conhecido como exportações líquidas. É justamente nesse último termo, o saldo comercial, que costumam surgir mal-entendidos. Quando as importações aumentam, o valor de M cresce e, como resultado, o termo (X – M) diminui. Isso leva à impressão de que as importações reduzem o PIB. Isso, porém, é apenas uma convenção contábil, e não um diagnóstico de causa.

Importações não reduzem o tamanho da economia por si só. O PIB mede a produção doméstica de bens e serviços, e não o que os consumidores ou empresas compram do exterior. Quando uma empresa importa um maquinário, por exemplo, essa aquisição é registrada como uma importação (negativa no PIB), mas também entra como investimento (positiva no PIB). O efeito líquido é nulo. O mesmo ocorre quando um cidadão adquire um produto do exterior: a importação subtrai no cálculo do PIB, mas o gasto entra como consumo, compensando o efeito.

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Mas o que explica a queda em 0,3% do PIB, então? A hipótese mais plausível é a de que, diante da ameaça de novas tarifas comerciais, muitas empresas correram para antecipar compras do exterior, aumentando estoques e investimentos em bens estrangeiros. Esse movimento gerou um pico nas importações. Para acomodar esse aumento, as mesmas empresas podem ter reduzido momentaneamente os investimentos em equipamentos produzidos internamente ou adiado a produção de bens e serviços locais. Isso sim impacta o PIB, mas não por culpa das importações em si, e sim pelo redirecionamento temporário de demanda. Além disso, parte desse estoque ainda não havia sido inteiramente registrado nas estimativas iniciais do PIB. Como o investimento em inventário é de apuração mais lenta, revisões futuras podem corrigir parte dessa queda.

Cabe destacar que importações fortes costumam indicar uma demanda interna aquecida. Se empresas estão comprando mais de fora, é porque esperam vender mais no futuro. Logo, se a queda no PIB foi apenas um soluço contábil de curto prazo, os próximos trimestres podem mostrar uma recuperação.
Por isso, dizer que as importações derrubam o PIB, por si só, é simplificar demais. O que houve, ao que tudo indica, foi uma resposta antecipada das empresas a choques externos.

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