Economia para Todos

A inflação e os desafios do Banco Central

Credibilidade da autoridade monetária, a previsibilidade de suas ações e o comprometimento da pauta fiscal serão fundamentais para o cenário

Semana passada, acompanhei a divulgação do Relatório de Política Monetária do Banco Central, seguida pela coletiva de imprensa de seu presidente, Gabriel Galípolo. Entre os diversos temas abordados, foi a análise sobre a inflação que mais me chamou a atenção.

A inflação é um fenômeno que afeta diretamente o poder de compra da população e a previsibilidade dos agentes econômicos. Para combatê-la, a política monetária precisa atuar de forma preventiva e, como agora, reativa, calibrando a taxa de juros e influenciando a formação das expectativas de inflação. Nesse sentido, o relatório pondera que a probabilidade de a inflação superar o teto da meta em 2025 é de 70%, um patamar expressivo que sugere desafios para a convergência dos preços ao centro da meta de 3%. Para 2026, essa probabilidade ainda se mantém relevante, em 28%. Esse cenário reflete as pressões de curto prazo, mas também a deterioração das expectativas inflacionárias.

Essas expectativas são um dos principais determinantes da dinâmica de preços, pois influenciam a formação de contratos, reajustes salariais e o comportamento de consumo e investimento. Quando os agentes econômicos passam a acreditar que a inflação permanecerá elevada, tendem a antecipar aumentos de preços, formando um círculo vicioso que torna a desinflação mais custosa e prolongada. No caso brasileiro, a piora das expectativas captada pela pesquisa Focus reforça esse risco.

A taxa de juros, principal instrumento da política monetária, acaba sendo calibrada de forma a reancorar as expectativas. No entanto, o atual contexto traz desafios adicionais. O câmbio em patamar elevado, aliado a incertezas sobre a condução da política fiscal e choques externos, pressiona a inflação, exigindo um manejo ainda mais preciso da Selic. Aqui, o desafio do Banco Central é posto pela busca do equilíbrio entre a necessidade de conter a inflação, sem comprometer excessivamente o crescimento econômico.

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Outro elemento fundamental na formação das expectativas é a política fiscal. Um quadro fiscal desajustado tende a gerar preocupação sobre a sustentabilidade da dívida, o que impacta a percepção de risco dos agentes econômicos e pressiona a inflação via câmbio e aumento da demanda agregada. Assim, a coordenação entre políticas monetária e fiscal é condição básica para garantir que as expectativas sejam controladas.

Diante desse panorama, a comunicação do Banco Central também se torna importante. A sinalização de um compromisso firme com a meta de inflação e a transparência nas decisões ajudam a alinhar as expectativas do mercado, reduzindo os prêmios de risco e evitando reajustes desnecessários nos preços.
A credibilidade da autoridade monetária, a previsibilidade de suas ações e o comprometimento da pauta fiscal, serão determinantes para o sucesso do processo desinflacionário nos próximos anos.

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