Inflação, oferta de moeda e dívida pública: qual a relação?
A inflação, tida como o aumento generalizado e persistente do nível de preços em uma economia, está diretamente ligada à maneira como o governo administra a quantidade de dinheiro em circulação. Em casos extremos, o descontrole – tanto da emissão de moeda como da inflação – pode resultar em hiperinflação, algo que o Brasil experimentou até a implementação do Plano Real, em 1994.
Uma inflação elevada acarreta diversos problemas para a sociedade, como instabilidade econômica, dificuldade na projeção de variáveis e prejuízos para aqueles que utilizam a moeda para efetuar transações. Sabendo que esta é uma situação indesejável, por que os governos, de forma recorrente, ampliam a emissão e, por consequência, a oferta de moeda?
A resposta começa com a compreensão de que a emissão de moeda pode ocorrer por diferentes razões, todas relacionadas à situação econômica do país. Isso pode acontecer quando há uma renovação da moeda, um aumento na riqueza real do país ou uma supervalorização da moeda. Em momentos de crises, como guerras ou pandemias, é comum os países adotarem medidas emergenciais para injetar mais recursos na economia.
Paralelamente, entre as diversas causas da inflação, o aumento na oferta de moeda é um dos tópicos mais discutidos e controversos da ciência econômica. Quando o governo aumenta a oferta de dinheiro mais rapidamente do que a economia está crescendo, ocorre inflação. Em outras palavras, há mais dinheiro circulando, mas não necessariamente uma produção proporcional de bens e serviços.
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Para ilustrar, considere uma economia com R$100,00 e 100 laranjas. Se todos decidirem usar seu dinheiro para comprar todas as laranjas, o preço médio por laranja será de R$1,00. Agora, imagine que o governo aumentou a oferta de dinheiro em 10%, resultando em R$110,00, mas a produção de laranjas só cresceu 5%, totalizando 105 laranjas. Como a quantidade de dinheiro aumentou mais do que o número de laranjas disponíveis, o preço médio por laranja subiu para cerca de R$1,05.
Muitas vezes, a raiz desse desequilíbrio está relacionada às finanças públicas. Para entender, podemos fazer uma analogia com uma família que deseja fazer uma viagem. Ela pode financiar esse gasto de duas maneiras: aumentando sua renda atual ou se endividando. No caso do governo, a situação é parecida. Ele pode financiar seus gastos com a receita atual, aumentando a arrecadação de impostos, ou se endividar, o que precisará ser pago em algum momento. Isso implica em mais impostos no futuro, menos gastos públicos ou uma combinação de ambas as medidas.
No entanto, o governo tem uma terceira opção, que é a de imprimir dinheiro ou, tecnicamente falando, expandir a base monetária. Isso, porém, como vimos, gera inflação. É importante notar que um dos principais fatores que contribuíram para o aumento dos preços que os consumidores enfrentaram recentemente foi a expansão significativa da base monetária promovida por vários países em 2020. No Brasil, por exemplo, essa base passou de R$ 316,6 bilhões em 2019 para R$ 431,5 bilhões em 2020, um aumento de 36%. Embora tenha havido uma reversão desse processo em 2021, a base continua alta, atualmente em R$ 404,5 bilhões. Como sabemos, para acompanhar as consequências dessa expansão o Banco Central precisou aumentar a taxa básica de juros.
Em síntese, quanto mais rápido a quantidade de moeda na economia cresce acima da atividade econômica, maior tende a ser a taxa de inflação. Países com finanças desequilibradas são os que muitas vezes recorrem a esse mecanismo para se financiar, o que resulta em uma inflação mais alta. A história nos mostra – vide o Brasil antes do Plano Real, a Bolívia em 1985 e a Argentina, atualmente – que a gestão da quantidade de dinheiro em circulação é um fator crucial para a estabilidade econômica de um país. A falta de equilíbrio nesse aspecto pode levar a cenários de inflação crescente e, em casos extremos, à hiperinflação.
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