Economia para Todos

Inflação sob consenso?

Recentemente, a incerteza sobre a inflação de longo prazo começou a diminuir

Em qualquer economia, quanto maior a incerteza envolvida na tomada de decisão, maior os desafios. Em especial, para o empresário, a dificuldade em prever a trajetória da inflação futura pode paralisar projetos e corroer margens de lucro. Nos últimos dias, no entanto, um indicador trouxe um sinal benigno: a incerteza sobre a inflação de longo prazo começou a se dissipar.

Toda semana, o Banco Central escuta o mercado através do Boletim Focus, compilando as projeções de dezenas de analistas para a economia. Mais importante do que a média dessas projeções é, muitas vezes, o grau de divergência entre elas. Quando cada especialista aponta para uma direção diferente, um prevendo inflação alta, outro, baixa, o resultado é uma alta dispersão nos dados. Essa dispersão, medida estatisticamente pelo desvio-padrão, é o termômetro mais fiel da incerteza. Um desvio-padrão elevado significa que nem mesmo os especialistas conseguem traçar um cenário claro, tornando qualquer planejamento empresarial um verdadeiro tiro no escuro.

E os dados mais recentes mostram que esse termômetro começa a apontar para um clima mais ameno. Após um início de ano marcado por forte pessimismo e grande divergência nas previsões para a inflação de 2026, observa-se uma tendência consistente de convergência. As projeções, antes espalhadas, agora se agrupam em torno de um número mais consensual. Em outras palavras, a confiança do mercado em uma trajetória futura para a inflação parece estar, finalmente, se solidificando.

Essa convergência ganha ainda mais peso quando olhamos para o número central que dela resulta. Na última leitura do Focus, a mediana das expectativas para o IPCA de 2026 fixou-se em 4,44%. Pela primeira vez em meses, a projeção do mercado para o horizonte onde a política monetária atua hoje está abaixo do teto da meta oficial, que é de 4,50%. Mais do que isso, é um sinal de que a credibilidade da política monetária ainda se sustenta.

Na prática, menor incerteza significa maior previsibilidade. Um cenário de inflação menos incerto e ancorado permite calcular com mais segurança o retorno de investimentos produtivos. Pelo lado empresarial, facilita a definição de estratégias de preços que protejam as margens sem afugentar o consumidor. Além disso, a credibilidade do Banco Central é pré-requisito para um ciclo futuro de juros mais baixos, barateando o crédito para produção e investimento.

Ainda não podemos afirmar que há uma tendência clara de arrefecimento da inflação e de suas expectativas. Contudo, a formação de um consenso sobre o futuro dos preços é um passo fundamental. Para o mundo dos negócios, essa sinalização de que o terreno à frente pode ser menos acidentado é a notícia mais importante, pois permite que o foco saia sobrevivência em meio à turbulência e volte para onde deve estar: no crescimento, na inovação e na geração de valor.

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