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Juros altos por mais tempo

Em última reunião, o Copom elevou a Selic para 15% ao ano

Em sua mais recente decisão, o Comitê de Política Monetária elevou a taxa Selic para 15% ao ano. A ata da reunião, divulgada no último dia 24, revelou que a mensagem principal não está no aumento em si, e sim no que ele representa: o provável fim de um dos mais rápidos ciclos de aperto, seguido por uma pausa prolongada. O objetivo da interrupção é permitir a avaliação dos impactos acumulados de uma política cujos efeitos, por natureza, são defasados. Em outras palavras, grande parte do aperto monetário ainda será sentido na economia real. Logo, a pausa não sinaliza conforto, mas a necessidade de observar o remédio fazer efeito.

Essa postura austera é justificada por um cenário repleto de desafios. No front doméstico, a atividade econômica e o mercado de trabalho mostram uma resiliência que preocupa. Ganhos de renda real acima da produtividade e taxas de desemprego em mínimas históricas sustentam uma demanda agregada aquecida. Isso alimenta diretamente o componente mais crítico da inflação atual: o setor de serviços, que exibe forte inércia e segue rodando em níveis incompatíveis com a meta. O maior fantasma, no entanto, é a desancoragem das expectativas, citada como um desconforto unânime entre os membros do Comitê. A batalha para reconquistar a credibilidade torna o processo de desinflação mais custoso em termos de atividade. Ainda assim, há sinais de que a política funciona, como a inflexão no mercado de crédito, que já apresenta taxas mais altas e menor apetite ao risco.

Os ventos externos e a questão fiscal no Brasil também preocupam. O Copom descreve o ambiente global como “adverso e particularmente incerto”, citando as indefinições nas políticas fiscal e comercial dos Estados Unidos e as tensões geopolíticas como focos de volatilidade que exigem cautela.

Internamente, a ata ressalta a necessidade de “harmonia” entre as políticas. Nas palavras do Comitê, o “esmorecimento no esforço de reformas e disciplina fiscal” e as incertezas sobre a dívida pública, elevam o prêmio de risco e a taxa de juros neutra da economia. Na prática, uma política fiscal pouco crível torna a política monetária menos potente, exigindo uma Selic ainda mais alta para atingir o mesmo resultado no controle da inflação. Esse, inclusive, foi o tema do meu último artigo aqui nesta coluna!

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A manutenção da taxa em 15% se justifica pelas próprias projeções do Banco Central, que apontam para uma inflação de 4,9% em 2025 e 3,6% em 2026, ainda distantes do centro da meta. O futuro é incerto e o Copom não deve hesitar em retomar as altas caso os riscos de uma inflação mais resiliente ou de uma desancoragem mais profunda das expectativas se materializem. A porta para um ciclo de cortes só se abrirá diante de uma melhora consistente nesses indicadores, um processo para o qual uma âncora fiscal crível é condição essencial.

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