Manutenção da Selic em 15% é uma aposta na inércia
Na última semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Selic em 15%. A decisão, detalhada na ata da 273ª reunião, foi tomada em um cenário de inflação ainda persistente, expectativas desancoradas e incertezas globais relevantes. Embora a pausa possa ser vista como um momento de avaliação prudente, é uma aposta de que a dosagem monetária atual seja suficiente para frear a inflação sem desencadear uma retração econômica mais profunda.
O comitê descreve um cenário de “certa moderação no crescimento” da atividade econômica, mas com um mercado de trabalho que “ainda mostra dinamismo”. Essa dualidade é central para a inflação. Enquanto os setores sensíveis ao crédito começam a esfriar, um mercado de trabalho resiliente continua a alimentar as pressões de preço pelo lado da demanda, especialmente no setor de serviços. O diagnóstico do Copom é que essa moderação está ocorrendo conforme o esperado, sugerindo que sua estratégia está no caminho certo.
No entanto, o cerne do problema reside nas expectativas de inflação. O comitê reconhece que as expectativas para 2025 e 2026 permanecem acima das metas. Essa “desancoragem” é uma preocupação importante, pois pode se tornar uma profecia autorrealizável. Quando empresas e consumidores esperam uma inflação mais alta, eles ajustam seus preços e demandas salariais, incorporando as pressões de preços na economia. Conforme a ata, essa situação “aumenta o custo da desinflação em termos de atividade” e exige uma “restrição monetária maior e por mais tempo”.
O cenário externo adiciona outra camada de complexidade. O Copom destaca a incerteza decorrente da política econômica dos EUA e as tensões geopolíticas como fatores que exigem “particular cautela”. Essa postura é justificada. Um ambiente global imprevisível pode impactar o Brasil por meio de fluxos de capital voláteis e flutuações na taxa de câmbio, com consequências diretas para a inflação.
Por fim, a ata também aborda a necessidade crítica de harmonia entre as políticas monetária e fiscal – algo que já mencionei nesta coluna. O comitê adverte que o “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal” e as “incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia”. Em essência, se a política fiscal estimular a demanda ou aumentar as percepções de risco, a política monetária será forçada a se tornar ainda mais restritiva para atingir o mesmo objetivo, impondo um custo maior à sociedade.
A decisão de pausar, em vez de sinalizar novas altas, marca uma nova fase na estratégia do Copom: esperar para ver se os efeitos defasados do aperto monetário passado serão suficientes para domar a inflação. Em última análise, o Copom administrou uma forte dose de aperto monetário e agora observa a reação do paciente.
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