Marcas do pós-pandemia: dívida mundial e desafios fiscais
O mundo ainda carrega as marcas profundas da pandemia, tanto em termos sociais quanto econômicos. Nos próximos cinco anos, ou talvez mais, enfrentaremos desafios fiscais relevantes. E essa não é uma preocupação restrita ao Brasil.
A crise sanitária global provocou uma resposta econômica em larga escala, mas de forma bastante desigual. Países desenvolvidos destinaram, em média, 20% de seus Produto Interno Bruto (PIB) para mitigar os impactos da pandemia, enquanto os emergentes, como o Brasil, alocaram cerca de 10%. Já as economias mais pobres, com menor capacidade de financiamento, investiram apenas 4%. Esse desequilíbrio evidencia uma realidade: o enfrentamento à crise foi heterogêneo, e os legados dessa disparidade estão cada vez mais claros.
Além do endividamento, outro elemento transformador foi a elevação generalizada das taxas de juros. Antes da pandemia, o mundo vivia um cenário de juros baixos ou até negativos em muitas economias desenvolvidas. Havia dúvidas sobre a capacidade de gerar inflação, o que levou os bancos centrais a adotarem políticas monetárias não convencionais, como o uso extensivo de seus balanços para estimular a economia. No entanto, a dinâmica mudou. Hoje, o custo da dívida é significativamente maior: para se ter uma ideia, Estados Unidos, Europa e China, respondem por pouco mais de dois terços da dívida mundial. Essa dívida custava, mais ou menos, 1% ao ano antes da pandemia e, hoje, custa pouco mais de 3%. Portanto, temos que o custo de carregar dois terços da dívida do mundo foi multiplicado por três.
Nesse contexto, surge o questionamento. Como lidar com um endividamento elevado e custos de financiamento que pressionam ainda mais os orçamentos públicos? Essa realidade força os governos a repensarem prioridades, com projetos de longo prazo sendo colocados em xeque. A transição energética, por exemplo, demanda recursos vultosos, mas enfrenta resistências em um cenário de austeridade. A fragmentação do comércio mundial, impulsionada por conflitos geopolíticos e medidas protecionistas, também complica o panorama, enquanto gastos com defesa aumentam e as populações envelhecem mais rapidamente do que se projetava.
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Diante desses desafios, a disposição para implementar reformas estruturais é indispensável. O aumento da produtividade é uma prioridade global, assim como a formulação de políticas públicas capazes de conciliar demandas urgentes com metas de longo prazo. Contudo, a grande questão persiste: o mundo está, de fato, se tornando mais produtivo? Creio que não. À exceção dos Estados Unidos, os ganhos de produtividade têm sido escassos em grande parte do planeta.
O elevado endividamento global impõe desafios significativos, exigindo correções em diversas economias para que estas retornem a níveis mais sustentáveis. O sucesso dessa transição dependerá da capacidade de governos e sociedades conduzirem mudanças profundas.
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