Economia para Todos

Mesmo com impacto dos juros no crédito, concessões continuam

Segundo o Banco Central, o saldo do crédito no Sistema Financeiro Nacional deve registrar um crescimento de 10,6% no ano

Que o crédito é um dos motores da atividade econômica, todo mundo sabe. Contudo, sua dinâmica e evolução recente tem sido objeto de estudo, especialmente no contexto de juros elevados. Conforme projeções do Banco Central, o saldo do crédito no Sistema Financeiro Nacional deve registrar um crescimento de 10,6% em 2024, mesmo com uma Selic terminal em 12,25%. Para 2025, espera-se que o saldo continue a expandir em termos reais, mas a um ritmo mais moderado, especialmente nas operações de crédito livre voltadas para pessoas físicas.

Identifico dois fatores principais que podem estar impulsionando a evolução das concessões. O primeiro está relacionado à dinâmica do mercado de trabalho. Com emprego e renda em níveis historicamente elevados, a demanda por crédito aumenta, mesmo diante de custos elevados. O segundo fator possivelmente advém de uma recente reforma microeconômica: o novo marco de garantias. A percepção é que a modernização na utilização de garantias em concessões pode ter “destravado” o mercado, gerando um maior fluxo de recursos, embora esse impacto ainda careça de investigação aprofundada.

Adicionalmente, a demanda por crédito segue estimulada por necessidades de reposição, especialmente em segmentos mais resilientes a condições macroeconômicas adversas, como o consumo de bens não duráveis. No âmbito empresarial, as concessões de crédito mantêm certo dinamismo, ainda que em ritmo moderado, possivelmente impulsionadas pela busca por capital de giro e investimentos pontuais.

Entretanto, os efeitos da política monetária restritiva tendem a se intensificar neste ano. O aperto monetário impacta mais profundamente as operações de crédito livre, especialmente aquelas voltadas ao financiamento de bens de consumo duráveis. Esses bens, como automóveis e eletroeletrônicos, apresentam alta sensibilidade às variações nas taxas de juros, resultando em quedas expressivas no consumo após choques nos custos do crédito. Estudos indicam, por exemplo, que um aumento de 1 ponto percentual na taxa de juros pode reduzir o consumo de bens duráveis em até 5 pontos percentuais em um horizonte de três trimestres, enquanto o impacto sobre os bens não duráveis é significativamente menor. A esse efeito, somam-se condições mais restritivas para o crédito imobiliário e rural.

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Em um cenário de continuidade da política monetária restritiva, é esperado que o consumo agregado desacelere, especialmente em setores fortemente dependentes de crédito. Essa dinâmica tende a limitar o crescimento econômico, exigindo um maior alinhamento entre as políticas fiscais e monetárias para evitar uma retração mais acentuada. Por outro lado, setores menos sensíveis às taxas de juros ou que possuem acesso facilitado ao crédito direcionado, como o agronegócio, podem continuar a impulsionar positivamente o crescimento do PIB.

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