O ‘novo normal’ da inflação?
Recentemente, li um artigo de analistas da Bridgewater Associates, uma das maiores e mais influentes gestoras de recursos do mundo. O relatório, que se concentra na economia dos Estados Unidos, sugere que a maior potência global está entrando em uma nova fase, marcada por riscos inflacionários estruturalmente mais altos. A tese central é que o período da década de 2010, caracterizado por inflação baixa e estável, foi mais uma exceção do que a regra.
Naquela época, os EUA se beneficiaram de uma combinação única de fatores globais que ajudaram a conter os preços. A China seguia sua rápida ascensão, exportando produtos de baixo custo para o mundo, enquanto a revolução do gás de xisto nos Estados Unidos manteve a energia relativamente barata. Ao mesmo tempo, a economia global ainda lidava com excesso de capacidade e com o processo de desalavancagem após a crise financeira de 2008. Foi um cenário excepcionalmente favorável, que manteve a inflação sob controle mesmo diante do crescimento econômico.
Hoje, o cenário é totalmente diferente. Muitas das novas dinâmicas estruturais, como destaca o relatório, tendem a ser inflacionárias. Governos estão intervindo com muito mais intensidade na economia, adotando políticas industriais ativas e déficits fiscais significativos. Além disso, a globalização, que por décadas ajudou a reduzir custos, vem dando lugar à chamada “desglobalização”. Tarifas, programas de retorno da produção ao país de origem (“onshoring”) e a ruptura comercial com a China estão redesenhando cadeias de suprimentos de maneira a pressionar inevitavelmente os preços para cima.
O relatório da Bridgewater também aponta outros fatores críticos, como os custos associados à transição energética e as crescentes ameaças à independência institucional dos bancos centrais. Esta última, por sinal, a principal linha de defesa contra a inflação descontrolada.
“Mas e a Inteligência Artificial?”, muitos perguntam. A IA não será uma força massiva de desinflação? Sim, a longo prazo, um milagre de produtividade poderia ter esse efeito. No entanto, os analistas apontam um paradoxo interessante: no curto prazo, a IA está se mostrando inflacionária. Pense na demanda por eletricidade e nos investimentos grandiosos em infraestrutura, seja na construção de data centers ou redes de transmissão, que ela exige. Isso tudo pressiona os custos hoje, no presente.
O “ritmo cardíaco” da inflação está, de fato, mais alto. As metas que víamos como teto agora se parecem muito mais com um piso.
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