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O chantagista e o conflito árabe-israelense

A secular disputa entre israelenses e palestinos continua a ser foco de atenção global, reacendendo o longo conflito árabe-israelense que teve início no final do século XIX. A migração de colonos judeus para a região e a fundação do Estado de Israel em 1948 foram eventos cruciais que intensificaram o conflito. A luta por território e direitos entre judeus e palestinos permanece como uma das questões geopolíticas mais complexas e sensíveis do mundo, que viu, na última semana, retornar ao debate com o ataque do grupo terrorista Hamas.

Embora os aspectos humanitários sejam primordiais, é inevitável desconsiderar os impactos econômicos desse conflito. A região do Oriente Médio, devido à sua importância geopolítica, mantém os olhos dos mercados globais sobre si. O temor maior reside na escalada do conflito, especialmente se o Irã, um grande produtor de petróleo e apoiador do Hamas, se envolver. O controle estratégico do Estreito de Ormuz pelo Irã acrescenta uma camada de complexidade, pois é uma rota crítica para o comércio global.

É cedo para conjecturar sobre os desdobramentos do conflito. Essa incerteza mantém os mercados internacionais em suspense. Com a economia global já enfrentando desafios de desaceleração, o conflito tem o potencial de introduzir um conjunto imprevisível de variáveis, afetando o cenário econômico. Para os bancos centrais, o embate representa um dilema: pode levar a pressões inflacionárias devido à importância da região na produção de petróleo e de rotas de transporte marítimo, mas também pode minar a confiança e prejudicar o crescimento econômico.

Neste contexto de hostilidade contínua, a Teoria dos Jogos emerge como uma ferramenta valiosa para compreender e modelar a disputa. Ela oferece uma abordagem matemática para analisar as estratégias dos envolvidos, incluindo os governos de Israel e da Autoridade Palestina, terroristas e atores internacionais, sendo útil para analisar situações estratégicas onde os resultados de um agente dependem das ações de terceiros.

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Robert Aumann, laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2005 e acadêmico da Universidade Hebraica de Jerusalém, defende o uso da Teoria dos Jogos para compreender e aplicar estratégias em conflitos bélicos, especialmente no caso do governo israelense durante as negociações com seus adversários. Para isso, ele enfatiza o Paradoxo do Chantagista, que mostra como ameaças excessivamente altas podem resultar em ganhos menores do que uma abordagem mais moderada.

O paradoxo ocorre quando um chantagista estabelece uma demanda inicial excessivamente alta, na esperança de obter o máximo possível. No entanto, essa demanda pode ser tão alta que a outra parte prefere não ceder, levando a perdas para ambos. Aumann analisa as nuances desse paradoxo e o compara ao conflito árabe-israelense, oferecendo sugestões estratégicas para Israel se posicionar de forma mais eficaz.

A dinâmica entre Israel e os países árabes segue os contornos do paradoxo. Nas negociações, os árabes apresentam posições iniciais consideradas inaceitáveis, demonstrando confiança e determinação. Como resultado, em muitas ocasiões, Israel acaba por ceder às exigências, temendo sair de mãos vazias. Segundo Aumann, Israel precisa reexaminar suas concepções essenciais para aprimorar suas perspectivas nas negociações e triunfar na luta política a longo prazo.

A abordagem política de Israel é pautada na necessidade de alcançar acordos com os árabes a qualquer custo, visto como indispensável. No entanto, conforme Aumann, é essencial que Israel esteja disposto a recusar certos acordos. A Teoria dos Jogos distingue situações singulares daquelas que se repetem ao longo do tempo, ressaltando a importância de considerar o longo prazo para fortalecer a posição em futuras negociações, mesmo que isso envolva a continuidade do estado de conflito e a renúncia a um acordo.

A Teoria dos Jogos é um campo da ciência que permite analisar o comportamento de lados opostos em um ‘jogo’ competitivo, sem emitir juízos morais ou de valores. No caso do conflito árabe-israelense, ela pode ser usada para examinar os interesses envolvidos, estabelecer o quadro e as regras do jogo. Isso pode fornecer uma perspectiva valiosa sobre as complexidades do conflito e ajudar a encontrar soluções sustentáveis.

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