Economia para Todos

O crescimento é a nova tendência para o Brasil?

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) referente ao 2º trimestre de 2023. Para a surpresa do mercado, que esperava um crescimento de 0,3%, frente ao 1º trimestre do ano, a atividade econômica cresceu três vezes mais (0,9%). Apesar de dados antecedentes já indicarem um aumento mais intenso, pautado no consumo familiar, os detalhes da divulgação nos dão um norte do que podemos aguardar para o segundo semestre.

Para entendermos a dinâmica do indicador divulgado, precisamos compreender sua configuração. O PIB – a soma de todos os bens e serviços finais produzidos – é uma medida da atividade econômica de um país e pode ser analisado a partir de duas perspectivas: a ótica da oferta e a ótica da demanda.

Na ótica da oferta, temos o foco nos diferentes setores da economia que contribuem para a produção de bens e serviços. Ela desagrega o PIB em três categorias: setor primário (agricultura), setor secundário (indústria) e setor terciário (serviços). Já a ótica da demanda, foca nos gastos e no consumo de bens e serviços na economia. Ela desagrega o PIB em quatro principais componentes: consumo das famílias, investimentos produtivos, gastos do governo e exportações líquidas (diferença entre exportações e importações). O intuito é entender como diferentes grupos na sociedade contribuem para a demanda total.

Voltando ao resultado, alguns fatores foram responsáveis pela surpresa do desempenho. Em especial, pelo lado da demanda, o protagonista foi o consumo das famílias e, em menor medida, do governo. Frente ao primeiro trimestre, os crescimentos foram de 0,9% e 0,7%, respectivamente. Na comparação anual, isto é, frente ao segundo trimestre de 2022, ambos os componentes cresceram próximo a 3%. O investimento produtivo, por sua vez, ficou estável na comparação trimestral e tombou 2,6% na comparação anual.

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Fato é que o aumento do consumo familiar já estava endereçado. Se por um lado vimos um mercado de trabalho mais resiliente, com geração de vagas na maioria dos estratos e massa salarial batendo recorde, por outro, vimos estímulos fiscais dando suporte ao crescimento, como programas de renegociação de crédito e de transferências diretas.

No setor externo, as exportações de produtos agropecuários, especialmente a soja, de produtos alimentícios e derivados do petróleo, foram destaques na expansão registrada (2,9%). Por outro lado, a importação de máquinas e aparelhos elétricos, bem como de petróleo e gás natural, foram determinantes para o crescimento das importações (4,5%).

Sob a ótica da oferta, os motores de crescimento foram a indústria (0,9%) e o setor de serviços (0,6%), ambos amparados na resiliência do consumo das famílias. De forma positiva e, a despeito dos juros ainda restritivos no período considerado, a produção dos setores mais sensíveis à política monetária acelerou.

Nesse contexto, serviços prestados às famílias, atividades financeiras e transportes, todos do setor terciário, e indústria extrativa, do setor secundário, foram os responsáveis pelas maiores contribuições.
Apesar de não ter apresentado crescimento, o desempenho da agropecuária também surpreendeu, visto que o mercado esperava um recuo maior na atividade do setor. No recorte com ajuste sazonal, o setor encolheu 0,9%, afetado pela sazonalidade da safra da soja, concentrada no início do ano.

Em geral, vimos uma mudança na composição do PIB: enquanto no primeiro trimestre o agro foi o propulsor do crescimento, no segundo, os serviços e, em partes, a indústria, ditaram o ritmo da atividade econômica. Para o segundo semestre, essa configuração deve permanecer, apresentando pesos e contrapesos que irão ditar o rumo desse crescimento.

Historicamente, a segunda parte do ano tende a ser mais aquecida, com importante participação do consumo familiar. Além disso, a flexibilização da política monetária será notada com maior intensidade nas concessões de crédito, ao passo que os efeitos de programas fiscais serão captados pelos diversos segmentos.

No entanto, o alto endividamento familiar, a dissipação dos efeitos do agro, o cenário externo ainda desafiador – com desaceleração da economia chinesa entre os principais agravantes – e a própria base de comparação alta, podem ser limitadores do crescimento. Ademais, é pouco provável que tenhamos a mesma onda de estímulos fiscais.

O PIB deve encerrar o ano no campo positivo, próximo aos 3%. Se isso será uma tendência para 2024, porém, é difícil afirmar. Há muitas incertezas, especialmente no âmbito fiscal e externo que podem interromper os ciclos de surpresas positivas.

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