O jogo tarifário entre Brasil e EUA
A recente imposição de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre todos os produtos importados do Brasil marca um ponto de inflexão nas relações comerciais entre os dois países. A medida foi justificada por um suposto “desnível” comercial e por motivações políticas, incluindo críticas a instituições brasileiras.
No entanto, a alegação de desequilíbrio comercial não se sustenta nos dados agregados: desde 2009, os Estados Unidos têm superávit na balança comercial com o Brasil. Em 2024, por exemplo, esse saldo foi de US$ 283,8 milhões. A exceção está no agronegócio, onde o Brasil mantém um superávit expressivo de US$ 8,79 bilhões. Essa discrepância revela que a tarifa vai além de questões econômicas, inserindo-se em um contexto mais amplo de pressões geopolíticas.
Os impactos esperados são diversos. O agronegócio, que em 2024 exportou cerca de US$ 10 bilhões para os Estados Unidos, é diretamente afetado em produtos como carnes, café, suco de laranja e açúcar. Para se ter uma ideia, o Brasil fornece mais de 70% do suco de laranja importado pelos Estados Unidos, 30% do café e 32% de açúcar e etanol. A indústria de base também sofre, com projeções de retração de até 36,2% nas exportações de aço e alumínio, resultando em perdas que podem chegar a US$ 1,5 bilhão.
Além dos efeitos diretos, a instabilidade gerada ameaça o câmbio, a inflação e o fluxo de Investimento Direto Estrangeiro, do qual os Estados Unidos são a maior fonte para o Brasil.
Nesse cenário, a interação entre Brasil e Estados Unidos pode ser analisada, à luz da Teoria dos Jogos, como um “jogo” não cooperativo. Ao impor tarifas de forma unilateral, os Estados Unidos optaram por uma estratégia de não cooperação, mirando ganhos políticos e comerciais de curto prazo. Ao Brasil, resta agora um dilema, com duas possíveis respostas. A primeira seria a retaliação, apoiada por instrumentos legais como a Lei de Reciprocidade Econômica. No entanto, essa via envolve riscos. Enquanto os Estados Unidos representam cerca de 12% das exportações brasileiras, o Brasil responde por apenas 1,3% das importações norte-americanas. Assim, iniciar um ciclo de retaliações poderia causar mais danos ao Brasil do que aos Estados Unidos.
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A segunda alternativa é apostar na cooperação, buscando alterar a natureza do jogo. Isso exige a abertura de canais de diálogo, com a diplomacia brasileira atuando para separar as disputas comerciais de pressões ideológicas. A experiência mostra que diversas tarifas impostas pelos Estados Unidos foram renegociadas após acordos bilaterais, indicando que essa é uma saída viável. Para além da resposta imediata, o Brasil deve adotar uma estratégia proativa de longo prazo para alterar seus futuros “payoffs” nesse tipo de jogo. Isso envolve a diversificação de mercados, fortalecendo laços comerciais com outros parceiros como a China e a União Europeia. Tal reposicionamento diminuiria a vulnerabilidade do País a medidas unilaterais, fortalecendo sua posição em futuras negociações.
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