O que significam as estimativas do PIB e qual é o potencial do Brasil
Na última semana, me deparei com uma notícia cujo título era: “Estimativas sobre o PIB potencial divergem entre governo e instituições”. O PIB potencial é um conceito essencial para entendermos os limites do crescimento econômico. Ele representa o nível máximo de atividade econômica que pode ser sustentado no longo prazo, isto é, sem gerar pressões inflacionárias, determinado por fatores como força de trabalho, estoque de capital e produtividade. No entanto, sua estimativa não é uma ciência exata. Diferentes metodologias levam a resultados distintos, alimentando o debate sobre o real nível de aquecimento da economia brasileira.
Quando o PIB efetivo ultrapassa o potencial, a economia entra em um estado de superaquecimento, sinalizado por um baixo nível de desemprego e alta utilização da capacidade instalada. Esse cenário geralmente vem acompanhado de pressões inflacionárias, exigindo um ajuste para realinhar o crescimento ao seu limite sustentável. O problema é que não há um consenso sobre qual é exatamente esse limite e, nesse sentido, a notícia destacava as divergências entre as estimativas da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, do Banco Central, da OCDE e da FGV/Ibre.
Segundo a SPE, o PIB potencial foi de 2,4% em 2023 e de 2,3% em 2024. Já o Banco Central estima um número mais otimista: 3,1% e 2,4%, respectivamente. A FGV/Ibre, por outro lado, adota uma visão bem mais conservadora, com projeções de apenas 0,65% para 2023 e 0,63% para 2024. A OCDE, por sua vez, calcula 1,8% e 1,9% nos mesmos anos.
Essas discrepâncias tornam a análise econômica mais complexa, pois a intensidade necessária para frear a economia depende diretamente da estimativa adotada para o PIB potencial.
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A credibilidade da política monetária e a necessidade de reancorar expectativas são questões centrais. Mesmo com a projeção mais otimista do Banco Central, o hiato do produto continua elevado e a política monetária já se encontra em um patamar bastante restritivo. Diante desse cenário, uma maior coordenação com a política fiscal é fundamental para evitar que o Banco Central tenha que carregar sozinho o peso do controle da inflação e que sua atuação, via juros, perca a potência.
A despeito das discrepâncias, creio que há um consenso em relação a um dos grandes entraves ao crescimento potencial do Brasil: o baixo nível de investimento produtivo. Sem investimentos robustos, a capacidade produtiva se expande lentamente, dificultando um crescimento econômico sustentável. Apesar de uma leve alta nos investimentos ao longo dos primeiros três trimestres do ano passado, o volume ainda é insuficiente para aumentar significativamente o estoque de capital e impulsionar o crescimento de longo prazo. Isso reforça a necessidade de políticas que incentivem investimentos produtivos, garantindo um crescimento mais vigoroso sem gerar desequilíbrios inflacionários.
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