Panorama do crédito no Brasil: comportamentos recentes e tendências futuras
O crédito é o combustível que alimenta o motor da economia, permeando todas as suas esferas com sua importância inegável. Desde o cotidiano das famílias até as operações das grandes corporações, sua presença é vital. Imagine adquirir uma casa sem a possibilidade de financiamento ou uma empresa expandir suas operações sem acesso ao capital necessário. O crédito é mais que uma comodidade, é um facilitador essencial para o progresso econômico.
Para os consumidores, o crédito representa uma ponte entre seus desejos e suas capacidades financeiras imediatas. Facilita a aquisição de bens duráveis, como carros e eletrodomésticos, e viabiliza investimentos em educação, mesmo quando o montante necessário não está disponível no momento da aquisição. Essa flexibilidade impulsiona a demanda agregada, fomentando a produção e o emprego. Em essência, o crédito é uma ferramenta que nos permite antecipar o consumo.
No âmbito empresarial, o crédito é o catalisador do crescimento. Desde as startups até as gigantes multinacionais, todas dependem do crédito para financiar suas operações, ampliar suas capacidades produtivas e impulsionar a inovação. Seja para investir em tecnologias emergentes, expandir a produção ou explorar novos mercados, o acesso ao crédito é fundamental para o sucesso corporativo. Além disso, o crédito desempenha um papel essencial no suporte às pequenas empresas, permitindo-lhes iniciar e manter suas operações, mesmo em períodos adversos.
Diante desse cenário, é importante analisarmos o comportamento recente do crédito e vislumbrarmos suas tendências futuras. Fato é que o mercado de crédito enfrentou uma desaceleração em 2023, refletindo os efeitos defasados da política monetária restritiva. Após três anos consecutivos de forte expansão, o crescimento anual do saldo do crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) desacelerou para 8,1%, ante 14,5% em 2022.
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As taxas de juros seguiram o curso da Selic, recuando de forma mais acentuada no segundo semestre. No entanto, as concessões, especialmente para famílias, experimentaram uma desaceleração notável, evidenciando um ambiente de crescente aversão ao risco para esse grupo. No segmento de pessoas físicas, houve uma desaceleração nas concessões de crédito livre, acompanhada por uma mudança na composição do crédito contratado – com aumento nas modalidades de alto custo e redução nas de baixo custo, reflexo de um ambiente de juros e inadimplência ainda elevados.
No segmento corporativo, o primeiro semestre testemunhou uma queda nas concessões, influenciada pela aversão ao risco e pelos pedidos de recuperação judicial de grandes empresas. Entretanto, com a diminuição tanto da aversão ao risco, como da taxa básica de juros, as concessões para empresas se recuperaram no segundo semestre, seja no mercado bancário ou no de mercado de capitais.
Mesmo no crédito direcionado, onde o custo do capital é mais baixo, houve desaceleração notável. No segmento de pessoas físicas, vale destacar a diminuição dos financiamentos imobiliários utilizando recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), parcialmente compensada pelo aumento das concessões no âmbito do programa “Minha Casa, Minha Vida”. O aumento de quase 27% no orçamento do plano Safra 2023/24 sustentou o crescimento do crédito rural, embora em um ritmo menor do que o registrado no ano anterior. No caso de empresas, as contratações de crédito rural e dos programas Pronampe e PEAC mantiveram um ritmo expressivo, enquanto as oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sofreram queda em termos reais.
Apesar dos desafios enfrentados, as projeções para 2024 indicam um crescimento no crédito, evidenciando a resiliência e a capacidade de adaptação do mercado financeiro frente às oscilações econômicas. As recentes medidas para estimular novas concessões, especialmente para micro e pequenas empresas, como o programa Acredita, têm potencial de destravar recursos para investimentos e consumo, impulsionando a atividade econômica.
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