Perspectivas para o futuro político e econômico da Argentina
A eleição de Javier Milei na Argentina, com uma expressiva vitória de 55% dos votos, trouxe à tona uma série de desafios e reflexões sobre o futuro político e econômico do país. Com uma vantagem de 11 pontos percentuais sobre o peronista Sergio Massa, a vitória de Milei não deveria surpreender, visto que seu concorrente não logrou êxito na pasta mais importante do governo até então.
O estreante na política destaca a ascensão do anarcocapitalismo. Milei promove uma visão de Estado mínimo, onde o livre mercado e interações voluntárias são as forças motrizes da sociedade. Seu mandato promete desafios significativos nos primeiros anos, com a necessidade de equilibrar as demandas políticas internas e implementar reformas econômicas de grande envergadura. Mas isso não será fácil.
O economista ultraliberal enfrentará o desafio de liderar um país em séria crise econômica, destacando-se a escassez de dólares como um dos pontos mais críticos. Ao contrário do Brasil, a Argentina não acumulou reservas da moeda quando teve oportunidade (na virada do milênio). A falta de dólares desencadeou uma desvalorização cambial, o que resultou em um aumento significativo da inflação.
Nossos hermanos estão lidando com um aumento generalizado dos preços próximo a 140%.
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A inflação, por suposto, é a raiz de um outro grave problema pelo qual a Argentina passa: a falta de confiança. Ao longo de quase uma década, o país lidou com a falta de informações oficiais, especialmente em relação à inflação. Essa omissão, deliberadamente realizada nos governos de Néstor e Cristina Kirchner, tinha o propósito de ‘manter a inflação dentro da meta’, mas fez com que o país perdesse credibilidade.
Assim como acontece em qualquer país, o governo da Argentina emite títulos indexados à inflação como forma de obter recursos para financiar suas atividades. Contudo, ao não reconhecer a inflação oficial, nosso vizinho reduziu o indexador usado nos títulos públicos. Isso resultou na deterioração da capacidade do governo de se financiar no mercado interno de dívida, levando a um aumento substancial da dívida externa.
A dívida externa, a propósito, é outro problema de longa data. Com sucessivos empréstimos captados junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), Milei enfrentará, de forma imediata, o desafio de pagar US$ 3,5 bilhões em dívidas ao FMI e juros associados aos títulos emitidos.
Entretanto, o desafio mais delicado que o novo presidente enfrentará é a situação da população, que se encontra empobrecida e altamente dependente de subsídios estatais. Caso o novo líder opte por buscar o equilíbrio das finanças públicas, será necessário implementar cortes nesses auxílios, especialmente na área de energia e combustíveis. Essa decisão, embora crucial para a saúde financeira do país, pode impactar diretamente a vida da população, tornando o desafio ainda mais sensível e complexo.
Para solucionar diversos dos problemas enfrentados, o presidente eleito propõe discutir a dolarização da economia e, até mesmo, o fim do Banco Central – um devaneio, diga-se de passagem. A ideia de adotar o dólar como moeda pode trazer estabilidade ao eliminar a inflação, mas enfrenta desafios, especialmente no âmbito da política fiscal. A incapacidade de imprimir novos dólares para cobrir o déficit fiscal pode complicar a gestão da dívida pública, já que um país não pode simplesmente decidir usar dólares sem possuir a moeda estrangeira necessária. A grande incógnita é quem estaria disposto a emprestar recursos para a Argentina realizar esse processo de dolarização.
No que diz respeito à possibilidade de encerrar as atividades do Banco Central, essa proposta carece de apoio político. Mesmo adotando um tom mais conciliador, Javier Milei enfrentará limitações de apoio, uma vez que seu partido controla apenas 38 das 257 cadeiras no Congresso. A oposição peronista se mostra robusta, tornando vital a colaboração com figuras como Bullrich e Macri para avançar na agenda econômica.
Milei irá herdar uma verdadeira bomba armada. Para que o político inexperiente alcance o sucesso, será crucial abandonar ideias extremas. No curto prazo, a Argentina requer um conjunto de medidas que inclui a desvalorização do Peso, o aumento dos já elevados juros, cortes de gastos e revisão de subsídios públicos. Essas ações, se implementadas de forma equilibrada, podem ser essenciais para estabilizar a economia argentina e criar as bases para um desenvolvimento mais sustentável no futuro.
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