PIB forte, inflação a caminho?
O PIB brasileiro cresceu 1,4% na transição do 4º trimestre de 2024 para o 1º trimestre de 2025, segundo dados do IBGE. Esse crescimento reflete, em boa parte, choques positivos de oferta, especialmente no setor agropecuário. Embora o resultado trimestral seja favorável, é importante avaliar se esse desempenho pode gerar pressões inflacionárias ou se, ao contrário, a expansão da oferta ajudará a conter os preços.
Pela ótica da produção, a agropecuária se destacou, impulsionada por condições climáticas favoráveis e por uma base de comparação fraca. A safra de soja, nosso principal produto agrícola, deve atingir nível recorde, enquanto outras culturas como milho, arroz e fumo também apresentaram considerável aumento de produtividade. Esses ganhos tendem a ter efeito deflacionário sobre os alimentos, pois ampliam a oferta doméstica de grãos e reduzem a necessidade de importações.
O setor de serviços, responsável por cerca de 70% da geração de riqueza, avançou no trimestre. O segmento de informação e comunicação foi o mais dinâmico, beneficiado pelo crescimento contínuo da demanda por internet e pelo desenvolvimento de sistemas. Atividades imobiliárias e comércio também cresceram, enquanto o segmento de transportes recuou. A pressão de custos permanece em áreas dependentes de logística, enquanto os segmentos tecnológicos ajudam a conter preços internamente.
Já a indústria teve leve queda. As indústrias de transformação e construção recuaram, pressionadas pela política monetária restritiva. Por outro lado, as indústrias extrativas e o setor de eletricidade e gás avançaram. Embora ainda haja capacidade ociosa em alguns segmentos, o avanço em insumos básicos pode ajudar a segurar os preços industriais.
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Pela ótica da demanda, o consumo das famílias e o investimento produtivo avançaram. O consumo do governo ficou praticamente estável e, no comércio exterior, as exportações e importações aumentaram, com maior intensidade neste último.
Do ponto de vista inflacionário, o choque de oferta no setor agropecuário exerce um efeito moderador, especialmente sobre os preços dos alimentos. Já o segmento de serviços ligados à tecnologia tende a reduzir custos internos e ajudar a conter a inflação setorial. No entanto, a expansão do consumo das famílias e o aumento dos investimentos podem gerar pressões em cadeias ainda restritas, além de elevar a necessidade de importação de bens intermediários. Se a demanda avançar justamente nos setores que enfrentam gargalos, há risco de repasse de custos para o consumidor, especialmente em caso de oscilações cambiais em resposta ao crescimento das importações.
Nesse contexto, o Banco Central deve manter uma postura disciplinadora, especialmente diante de uma política fiscal e parafiscal de estímulo à demanda. As pressões inflacionárias devem seguir no cenário, ainda que compensadas por ganhos de produtividade.
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