Economia para Todos

Por que erramos nas projeções econômicas?

Um ponto importante é a dificuldade de captar, em tempo real, as nuances de setores específicos da economia

As previsões econômicas, como as do Boletim Focus, frequentemente enfrentam limitações que tornam inevitável a necessidade de revisões ao longo do ano. A disparidade entre as projeções feitas em janeiro e as apresentadas no final de 2024, reflete o impacto de eventos imprevisíveis e, também, as lacunas inerentes aos modelos econométricos. No início do último ano, por exemplo, estimava-se uma inflação de 3,90%, crescimento do PIB de 2,93%, Selic a 9% e câmbio em R$ 5,00. Hoje, as expectativas revisadas apontam para uma inflação de 4,90%, PIB de 3,49%, Selic de 12% e câmbio a R$ 6,05. O que explica tamanha diferença?

Um ponto importante é a dificuldade de captar, em tempo real, as nuances de setores específicos da economia. O agronegócio, por exemplo, é particularmente difícil de prever devido à sua dependência do clima e à complexidade de suas cadeias produtivas. Grande parte das estimativas se apoia em dados oficiais, que, embora essenciais, muitas vezes não capturam plenamente a dinâmica de produtividade e os fatores externos que moldam o setor. Além disso, eventos inesperados, como choques climáticos, podem mudar completamente o panorama em questão de meses.

No início de 2024, o forte crescimento do PIB no primeiro trimestre, impulsionado por uma base de comparação baixa, levou muitos economistas a preverem uma desaceleração para o restante do ano. No entanto, indicadores de alta frequência, como o IBC-Br, surpreenderam positivamente e forçaram revisões para cima. Esse tipo de ajuste é comum, especialmente se considerarmos que os modelos ainda não conseguem capturar adequadamente os efeitos estruturais de reformas microeconômicas recentes, como o novo marco do saneamento, a autonomia do Banco Central e as reformas trabalhista e previdenciária. O impacto dessas medidas, ainda em maturação, tem sido maior do que o inicialmente projetado, revelando um potencial de crescimento mais robusto.

O câmbio, por sua vez, ilustra como eventos internos e externos se entrelaçam para moldar as expectativas. A valorização do dólar em 2024 foi influenciada tanto pela política monetária nos Estados Unidos quanto pela deterioração do cenário fiscal doméstico, com dúvidas sobre a responsabilidade fiscal. Essas pressões, combinadas, provocaram um ajuste significativo nas projeções de inflação e juros.

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O Boletim Focus não erra por incapacidade, mas por refletir as incertezas inerentes a um ambiente econômico dinâmico e, muitas vezes, imprevisível – aqui, é claro, não podemos desconsiderar a possibilidade da influência de um viés. Ele deve ser visto como uma ferramenta de orientação, que se ajusta à medida que novos dados e eventos moldam a realidade. Interpretar suas revisões com essa perspectiva permite compreender o dinamismo da atividade econômica e a complexidade das projeções.

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