Por que os juros são tão altos no Brasil?
No primeiro trimestre de 2021, o Brasil se destacou por ser uma das primeiras economias a elevar suas taxas básicas de juros, passando de 2% para 13,75% em um curto espaço de tempo. Essa decisão foi elogiada por muitos especialistas, pois os juros são uma ferramenta crucial para combater o aumento generalizado e significativo dos preços que afetou toda a economia mundial no pós-pandemia.
De forma semelhante, o ciclo de redução das taxas de juros também foi liderado pelo Brasil e está em vigor há alguns meses, em contraste com o que ocorre nos Estados Unidos e na União Europeia, onde o custo do dinheiro continua subindo e permanece em níveis historicamente elevados. No entanto, mesmo com essa tendência de queda, o Brasil ainda mantém a liderança no ranking de juros reais mais elevados do mundo. Mas, afinal, qual a explicação para esse cenário?
A redução da inflação é um processo fundamental para que os juros possam diminuir, mas é importante entender que há um limite para o quanto eles podem baixar. Esse ponto é conhecido como juro neutro ou de equilíbrio, o qual representa o nível em que a economia cresceria em seu máximo potencial, sem pressões inflacionárias. Estima-se que esse juro esteja próximo de 4,5% no Brasil. Isso significa que, mesmo que o país não tivesse aumento nos preços ao longo de um ano, as taxas de juros cairiam apenas até esse patamar.
Esse nível elevado de taxas de juros é resultado de uma série de fatores estruturais que constituem o que é conhecido como “Custo Brasil”, a começar pelo alto endividamento público. O governo recorre a um grande volume de empréstimos, emitindo títulos de dívida pública, visando financiar suas extensas despesas. Em essência, o governo atua como um concorrente por recursos financeiros limitados. Para se ter uma ideia, no último ano, a Dívida Bruta do Governo Geral chegou a 85% do PIB, acima dos 68% observados para a média dos países da América Latina e Caribe. Adicionalmente, o risco fiscal, que se refere à possibilidade de o setor público não honrar suas obrigações financeiras, também adiciona custos ao crédito.
Em países onde o risco de inadimplência é maior, as taxas de juros tendem a subir como compensação.
Em outras palavras, os juros atuam como uma espécie de prêmio pelo risco assumido, sendo que, quanto maior o risco de não pagamento, maior é o retorno que o credor espera obter em troca do empréstimo concedido. Uma medida importante para avaliar esse risco é o CeditDefault Swap (CDS) e, nos últimos 12 anos, a média do CDS no Brasil foi de 199,3, muito acima de outros países latino-americanos como o Chile (80,4), Peru (108,3) e México (122,6).
Ao endividamento público, somam-se outros fatores estruturais. O alto endividamento familiar, e mais especificamente a inadimplência, aumentam o risco das transações para as instituições financeiras. Isso dificulta a recuperação do dinheiro emprestado. No Brasil, apenas US$ 0,18 são recuperados para cada US$1,00 emprestado, enquanto a média global é de US$ 0,37. Além disso, existe uma incerteza jurídica que afeta as operações de empréstimo. Garantir o cumprimento de contratos é desafiador, pois o sistema judiciário, muitas vezes, favorece o devedor.
Ademais, é importante considerar o nível baixo de poupança. Uma baixa taxa de poupança reduz a disponibilidade de recursos para empréstimos, aumentando a demanda por crédito e diminuindo o capital disponível para investimento produtivo, o que pode levar a taxas de juros mais elevadas. No Brasil, a taxa média de poupança interna é de, aproximadamente, 15,7% do PIB. Comparativamente, na Coreia do Sul, essa taxa é de 35%, na Colômbia é de 17,6%, no México é de 21% e, no Chile, de 21,3%.
Por fim, é crucial destacar a segmentação do crédito, o que limita a eficácia da política monetária, ou seja, a capacidade do Banco Central de influenciar o mercado por meio da taxa de juros. Aproximadamente 40% do crédito no Brasil não é afetado pela taxa básica de juros, percentual muito superior ao observado em outros países que empregam o conceito de “crédito direcionado”.
Compreender os fatores por trás das altas taxas de juros no Brasil é essencial para abordar esse desafio econômico. Reduzir essas taxas requer abordagens que contemplem não apenas os aspectos econômicos, mas também questões estruturais e regulatórias.
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