Economia para Todos

O protecionismo norte-americano e seus impactos no Brasil e no mundo

Política em questão tem consequências que vão além das tarifas e barreiras comerciais

Desde seu primeiro mandato, Donald Trump defendeu uma política econômica baseada no protecionismo, sob o argumento de fortalecer a indústria norte americana e reduzir o déficit comercial dos Estados Unidos. A adoção de tarifas sobre produtos chineses, europeus e de outros parceiros comerciais gerou um efeito dominó nos mercados globais, culminando na guerra comercial de 2018-2020. Agora, com o início de seu segundo mandato, cresce o temor de uma nova escalada nas disputas comerciais, um movimento que já começa a se desenhar no cenário.

No Brasil, a guerra comercial do passado trouxe benefícios temporários. O aumento das tarifas sobre produtos americanos levou a China a buscar fornecedores alternativos, beneficiando o agronegócio brasileiro, especialmente nas exportações de soja e carne. O Brasil ampliou sua participação no mercado chinês, consolidando-se como um dos principais exportadores de commodities para o país asiático. Houve também um ganho de market share em setores como milho e petróleo, algo que fortaleceu a balança comercial brasileira.

Porém, os benefícios observados naquela ocasião não devem se repetir com a mesma intensidade. A participação brasileira nas importações chinesas já é bastante expressiva, o que limita novas oportunidades de expansão. Além disso, a China pode buscar alternativas para manter boas relações com os EUA, elevando as compras de produtos agropecuários americanos em detrimento dos brasileiros. Essa estratégia poderia reduzir a demanda por soja e carne brasileiras, afetando os produtores nacionais.

Outro ponto de preocupação é o impacto sobre o setor siderúrgico. Na última guerra comercial, o Brasil conseguiu escapar de tarifas mais severas, mas foi submetido a cotas de exportação de aço para os EUA. Como cerca de 50% das vendas externas do setor têm como destino o mercado norte-americano, uma nova onda de medidas protecionistas pode comprometer sua competitividade e gerar impactos negativos na indústria.

O protecionismo exacerbado tem consequências que vão além das tarifas e barreiras comerciais. Ao reduzir a integração entre mercados, ele encarece insumos, diminui a eficiência produtiva e gera distorções no fluxo de capitais. Nos EUA, o aumento de tarifas tende a pressionar a inflação, encarecendo produtos para os consumidores. Isso pode levar a reações adversas do Federal Reserve, como a manutenção de juros elevados por mais tempo, impactando o custo de capital global. Países emergentes como o Brasil podem sofrer com uma menor liquidez internacional e desvalorização cambial, elevando o preço de importações e pressionando a inflação doméstica.

Historicamente, guerras comerciais produzem mais perdedores do que vencedores. No curto prazo, alguns setores podem se beneficiar, mas os efeitos colaterais incluem menor crescimento econômico, retração do comércio global e incerteza para os investimentos.

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