Economia para Todos

Renda, consumo e endividamento: veja um panorama de Minas Gerais

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no final de fevereiro, os dados referentes à renda domiciliar per capita de 2023 para o Brasil e suas unidades federativas. Essa divulgação atende à Lei Complementar 143 de 2013, a qual estabelece os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE) e, consequentemente, aos compromissos assumidos para definir os valores a serem repassados ao Tribunal de Contas da União (TCU).

O rendimento domiciliar per capita é calculado como a razão entre o total dos rendimentos domiciliares nominais, ou seja, sem considerar o efeito da inflação, e o número total de moradores em uma residência. Esse cálculo inclui os salários das pessoas que trabalham e outras fontes de renda, como aluguéis.

Para 2023, o rendimento médio por pessoa no Brasil foi de R$ 1.893,00, 16,5% superior ao observado um ano antes. No entanto, esse valor variou bastante entre os estados, indo de R$ 945,00 no Maranhão a R$ 3.357,00 no Distrito Federal. É importante destacar que a média de moradores por domicílio no País é de 2,79, número inferior àquele observado no último Censo, de 2010, quando a média era de 3,31.

No recorte para Minas Gerais, o rendimento médio por pessoa superou a média nacional ao totalizar R$ 1.918,00. Com esse saldo, o Estado ocupou o décimo lugar entre as unidades da Federação com os maiores rendimentos, apresentando uma elevação de pouco mais de 25% frente ao rendimento observado em 2022. Apesar desse panorama e, entre os estados da região Sudeste, o rendimento apresentado por Minas só não foi menor do que o do Espírito Santo, onde a cifra totalizou R$ 1.915,00. Ademais, o rendimento registrado para a economia mineira é 43% inferior ao máximo registrado pelo DF.

Em linhas gerais, o aumento da renda em Minas Gerais pode ser atribuído a diversos fatores, incluindo a rápida queda no desemprego, às características dos novos empregos gerados e ao aumento dos investimentos na economia estadual. Além disso, não podemos ignorar o aumento da renda proveniente de empregos informais e das transferências de recursos pelo Governo.

Quando comparamos esses dados com os números do Produto Interno Bruto (PIB) do último ano, percebemos que uma parte significativa do crescimento econômico, analisado pela ótica da demanda, foi impulsionada pelo consumo das famílias. Esse aumento no consumo, por sua vez, foi ocasionado pelo aumento observado na renda. Embora já tenham sido explorados os desdobramentos desse crescimento no artigo anterior, é importante destacar como esse comportamento afeta a situação financeira das famílias.

Em todo o País, quase 77% das famílias estavam endividadas no final de 2023, o que significa que tinham algum tipo de compromisso financeiro assumido. Por si só, esse não é um indicador negativo, pois o uso de crédito e financiamento para despesas cotidianas é cada vez mais comum e, se os compromissos forem cumpridos, não haverá consequências negativas. Por outro lado, o percentual de famílias inadimplentes no Brasil permaneceu em torno de 30%, o que é preocupante, pois gera impactos negativos tanto para os consumidores quanto para a economia como um todo, a começar pelo varejo.

Tomando como proxy os dados de Belo Horizonte, vemos que tanto o endividamento quanto a inadimplência em Minas Gerais encontravam-se em um patamar restritivo, muito acima da média nacional. Enquanto o percentual de famílias endividadas atingiu 91%, aquelas com contas em atraso somaram 52,6%. As implicações desses números são percebidas com defasagens. Com restrições ao crédito, o consumo de bens duráveis e semi-duráveis é afetado, prejudicando o desempenho de vários segmentos da economia.

Os números do IBGE nos mostraram que o Estado está entre os dez com maiores rendas per capita. No entanto, ainda há muito espaço para crescimento. Minas Gerais tem sido um polo indutor de novos investimentos, contemplando diversos elos da cadeia produtiva. Mais investimentos implicam em mais empregos criados e, consequentemente, uma renda maior para a população. Paradoxalmente, observamos que a população mineira está substancialmente mais endividada e em um patamar mais alto de inadimplência, configurando um desafio que envolve fatores culturais, conjunturais e regionais. O que explicaria essa situação e quais as soluções para isso?

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas