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Reservas internacionais: um seguro contra turbulências externas

As reservas internacionais foram tema de debates importantes em diversas ocasiões, sendo a mais recente ocorrida na crise de 2015-2016. No período, houve discussão sobre a possibilidade de usar tais reservas para reduzir a dívida pública. Argumentos foram levantados, mas o debate foi complexo e pouco compreendido pela população.

Reservas internacionais são como uma poupança em moeda estrangeira que cada país mantém no Banco Central. Elas servem para ajudar em situações em que o país precisa equilibrar as contas com outros países, o que é registrado em um tipo de “caderno de anotações” chamado balanço de pagamentos. Esse caderno registra tudo o que o país compra, vende e troca com o resto do mundo.

Nesse escopo, os bancos centrais têm um papel especial, provendo liquidez aos diversos bancos de uma economia. Quando as instituições precisam de dinheiro para pagar suas dívidas em reais, o Banco Central pode reduzir o valor que elas precisam manter em reserva (compulsório), liberando mais dinheiro para utilizarem em suas operações. Porém, em algumas ocasiões, os bancos precisam de dólares, não de reais. Assim, o Banco Central precisa recorrer às reservas internacionais para fornecer o recurso. Essas reservas funcionam como um seguro que protege a economia de problemas causados por mudanças no fluxo de dinheiro do exterior.

Nesta semana, o Banco Central do Brasil divulgou que as reservas internacionais totalizaram US$ 344,2 bilhões em agosto de 2023, uma cifra expressiva que mantém o País em uma posição credora. Contudo, esse cenário nem sempre foi o padrão. Em 1999, as reservas somavam R$ 36 bilhões, aumentando para R$ 49 bilhões, em 2003. Uma mudança significativa teve início quando a autoridade monetária lançou um programa de aquisição de reservas internacionais em janeiro de 2004. Esse programa, realizado por meio de leilões e complementado pela emissão de swaps cambiais reversos, perdurou até o início do ano de 2010. Atualmente, a maior parte da reserva é pautada pelo dólar norte-americano (80%). Do ponto de vista dos ativos, quase 90% correspondem a títulos soberanos, isto é, dos governos nacionais.

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Manter uma reserva robusta em moeda estrangeira traz várias vantagens, como a estabilidade do valor da moeda nacional, a possibilidade de pagar dívidas externas ou importações, a proteção em momentos de crise e a atração de investimentos estrangeiros. No entanto, há um custo em se manter tais reservas, dado pelo diferencial entre os juros locais e externos. Isso ocorre porque o Banco Central precisa emitir dívida em reais para comprar moedas ou títulos estrangeiros.

Para avaliar a sua robustez, devemos considerar métricas recomendadas para avaliar o nível de reservas. Atualmente, essa poupança externa brasileira equivale a 18% do PIB. Esse valor está próximo da média mundial (20%) e da média histórica brasileira (15%), mas abaixo do pico atingido em 2021 (25%). Se considerarmos as reservas como cobertura da dívida externa de curto prazo, a proporção é de208%,superior ao benchmark estabelecido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) – 100%.

Outra métrica para avaliar as reservas internacionais é compará-las ao valor importado médio, por mês. O FMI recomenda que as reservas sejam suficientes para cobrir, pelo menos, três meses de importações. Por aqui, essa métrica é superior a 10 vezes. Por outro lado, frente a um agregado monetário que denote certa liquidez, como o M2, o quadro é menos positivo: as reservas equivalem a 17%, abaixo do benchmark (20%) e da média dos demais países (30%).

Por fim, há um conceito mais amplo de adequação de reservas, o Ara. Esse conceito visa medir o nível de reservas necessário para cobrir potenciais saídas de recursos do País, sendo calculado com base em quatro indicadores. Uma razão Ara entre 100% e 150% é considerada adequada e, nesse quesito, considerando as reservas brutas, o Brasil computa 136% – dentro da referência, mas não tão robusta como se imaginava.

As reservas internacionais são um ativo valioso, podendo ser utilizadas para proteger o País da volatilidade cambial e da dependência de financiamento externo. Sua manutenção permite ao Brasil ter relações mais estreitas com seus pares e instituições financeiras multilaterais. Uma eventual venda de parcela dessas reservas deve ser criteriosamente avaliada, sendo viável apenas em um ambiente que suscite confiança dos agentes econômicos, pautado por reformas estruturais e retomada do investimento produtivo.

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