Risco Fiscal pressiona a economia dos EUA
Na última semana, a Moody’s, uma das três maiores agências de classificação de risco do mundo, rebaixou a nota de crédito soberano dos Estados Unidos de Aaa para Aa1. Mas, afinal, o que significa uma agência rebaixar a nota de um país? E por que isso acontece? Esse é o foco deste artigo.
As agências de rating, como Moody’s, Standard &Poor’s (S&P) e Fitch, existem para avaliar o risco de crédito de emissores, sejam empresas, bancos ou governos. Elas atribuem uma “nota” que indica a capacidade daquele emissor de honrar suas dívidas. Quanto mais alta a nota, menor o risco de calote. Uma nota Aaa, por exemplo, representa a confiança máxima de que o devedor pagará tudo em dia. Já notas mais baixas apontam riscos maiores, o que exige dos credores um prêmio adicional, isto é, juros mais altos.
No caso dos Estados Unidos, a Moody’s justificou o rebaixamento com base no avanço contínuo do déficit fiscal e na perspectiva de aumento expressivo da dívida pública nos próximos anos. Em outras palavras, o governo americano está gastando bem mais do que arrecada, e a tendência, diante de políticas que ampliam as renúncias fiscais, como a tentativa de tornar permanentes os cortes de impostos aprovados em 2017, é de agravamento dessa situação.
Apesar de os EUA continuarem sendo uma das economias mais robustas do planeta e de manterem status de moeda de reserva global com seu dólar, o rebaixamento sinaliza que a trajetória das contas públicas preocupa. Isso tem efeitos práticos: com uma nota menor, investidores exigem maior retorno para emprestar dinheiro ao governo, elevando os juros dos títulos públicos. Como esses juros servem de referência para uma série de empréstimos, como financiamentos de carros e taxas de cartões de crédito, o custo do crédito tende a subir, afetando o consumo e o investimento. Para as hipotecas, a relação é mais direta, visto que suas taxas estão, em grande parte, ligadas aos rendimentos dos Treasuries e à economia.
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Além disso, o rebaixamento pode afetar o comportamento do Federal Reserve, o Banco Central norte americano. A autoridade monetária, que já lida com pressões inflacionárias e incertezas decorrentes da política comercial, pode ficar mais reticente em cortar juros, mesmo diante de sinais de desaceleração econômica – o mercado, que iniciou o ano com a expectativa de quatro cortes, agora aguarda apenas dois ao longo do ano.
É verdade que os EUA já enfrentaram rebaixamentos antes. A S&P reduziu sua nota em 2011 e a Fitch, em 2023. Nenhuma dessas decisões alterou a posição do país como principal porto seguro do mundo. No entanto, cada novo rebaixamento adiciona uma quebra na confiança. Até mesmo as economias mais sólidas não estão imunes aos riscos fiscais.
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