Economia para Todos

Riscos no horizonte: humor do mercado mostra um Brasil de contrastes

Pesquisa de Estabilidade Financeira do Banco Central mostra um Brasil de contrastes

A mais recente fotografia do humor do mercado, capturada pela Pesquisa de Estabilidade Financeira do Banco Central, revela um Brasil de contrastes. De um lado, há uma forte confiança na solidez e resiliência dos bancos e das instituições financeiras. De outro, um profundo sentimento de cautela predomina, com o motor do crédito e do investimento operando em marcha lenta, freado por velhos e novos fantasmas da conjuntura.

O principal temor que assombra as mesas de operação e as decisões de crédito continua sendo a questão fiscal, tema já tratado diversas vezes nesta coluna. A sustentabilidade da dívida pública e as dúvidas sobre a capacidade do governo em equilibrar suas contas foram apontadas como o risco mais relevante por 38% dos participantes da pesquisa. Essa apreensão não é apenas um debate técnico, ela permeia toda a economia, influenciando as expectativas de inflação, pressionando a política de juros e, no limite, encarecendo o custo do capital para empresas.

Somam-se às preocupações domésticas as incertezas do cenário internacional, citadas como o principal risco por 30% das instituições. Em um mundo de cadeias produtivas interligadas, a instabilidade em grandes economias, como as potenciais consequências de medidas tarifárias nos Estados Unidos, é vista como uma ameaça direta à demanda por produtos brasileiros. O terceiro grande foco de risco é a consequência direta desse ambiente: o alto endividamento das famílias e empresas que, com juros ainda em patamares elevados, lutam para honrar seus compromissos.

Esse combo de incertezas se traduz em uma paralisia das decisões. A maioria dos entrevistados enxerga o momento atual da economia como uma fase de contração. Na prática, isso significa que a disposição do sistema financeiro para assumir riscos é baixa. O resultado é um freio na concessão de crédito para o consumoe, principalmente, para os investimentos que poderiam modernizar a indústria e expandir os negócios.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Apesar de tudo, o sistema financeiro se sente seguro. O índice que mede a confiança na estabilidade do setor segue em níveis elevados. Isso significa que os bancos se consideram capitalizados e preparados para atravessar a turbulência. A mensagem implícita é que o sistema não é a fonte do problema, mas um reflexo dele. A preferência da maioria das instituições por uma manutenção das regras prudenciais vigentes reforça essa visão de que o momento não é para aventuras, mas para a gestão cuidadosa de um cenário adverso.

O que a pesquisa nos mostra é, portanto, um sistema financeiro que funciona como uma âncora de estabilidade, mas que, ao mesmo tempo, age como um sensor das fragilidades da economia real. Enquanto as dúvidas sobre o rumo fiscal e o cenário externo não se dissiparem, a tendência é que o crédito permaneça seletivo e caro, limitando o potencial de crescimento do Brasil.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas