Sísifo e o Banco Central: analogia para o esforço incessante do BC em controlar a inflação
O mito de Sísifo, figura trágica da mitologia grega, narra a história de um homem condenado pelos deuses a empurrar eternamente uma enorme pedra morro acima. Porém, sempre que estava prestes a alcançar o topo, a pedra rolava de volta para o ponto de partida, forçando-o a recomeçar sua eterna tarefa. Esse mito pode ser utilizado como analogia para o esforço incessante do Banco Central (BC) em controlar a inflação. Apesar de suas ações, como a elevação dos juros – já restritivos – para conter a alta nos preços, a inflação insiste em escapar do controle, repetindo um ciclo que parece não ter fim.
Em 2024, a inflação oficial, medida pelo IPCA, acumulou alta de 4,83%, superando o teto da meta estipulada em 4,5% pelo Conselho Monetário Nacional. Esse desvio, embora aparentemente pequeno em 0,33 ponto percentual, revela os desafios da pauta monetária, marcados por tensões internas e externas. Como o trabalho de Sísifo, os esforços do Banco Central são constantemente minados por forças contrárias, com destaque para uma política fiscal expansionista que alimenta a demanda em um momento em que o controle inflacionário deveria ser prioridade.
Enquanto o BC ergue sua “pedra” com a elevação dos juros, a ausência da disciplina fiscal atua como uma força gravitacional, empurrando o equilíbrio econômico para baixo. Esse descompasso é agravado por incertezas que corroem a confiança dos agentes econômicos, desancorando as expectativas e impactando diversas variáveis, como o câmbio. Enquanto isso, o consumo encarece cada vez mais, com destaque, no último ano, para os grupos de alimentação e bebidas (+7,69%), educação (+6,70%) saúde (+6,09%) e despesas pessoais (+5,13%).
Além do cenário doméstico, o ambiente internacional contribuiu para a volatilidade. Taxas de juros elevadas em economias desenvolvidas, somadas a tensões geopolíticas, restringiram o fluxo de capital para países emergentes, intensificando a pressão cambial e, consequentemente, inflacionária. Assim, o Banco Central não apenas enfrenta uma pedra que teima em rolar ladeira abaixo, mas também precisa lidar com eventos externos que tornam sua tarefa ainda mais árdua.
Atividade econômica acima do potencial, desvalorização cambial, expectativas desancoradas e inércia inflacionária foram os grandes motivadores do desvio da inflação em relação à meta. Diante disso, Galípolo precisou justificar o insucesso ao Ministério da Fazenda, conforme exige o regime de metas. Sem um alinhamento para equilibrar as contas públicas e conter a inflação, porém, o País corre o risco de perpetuar um círculo vicioso que penaliza tanto a economia quanto a população. Sísifo, afinal, só conseguiria alcançar o topo se estivesse livre das forças que sabotam seus esforços – e o mesmo vale para o Banco Central em sua luta pela estabilidade de preços.
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