‘Tigrinho’ e outros sites de apostas precisam de regulamentação e de mecanismos de controle
O aumento de sites de apostas on-line, contemplando tanto casas de apostas esportivas quanto jogos como o “tigrinho”, tem sido tema de discussões sobre os impactos econômicos e sociais no Brasil. Com a crescente popularidade dessas plataformas, enfrentamos desafios importantes.
Nos últimos anos, o mercado de apostas cresceu de forma notável, impulsionado pela facilidade de acesso à internet e pelo crescente interesse, estimulado pela intensa propaganda desse tipo de entretenimento. O número de plataformas (bets) em operação no Brasil, por exemplo, aumentou de 26 para 217 nos últimos três anos, conforme dados da Datahub. No entanto, esse rápido crescimento ocorre em um ambiente regulatório ainda incipiente, no qual a ausência de uma legislação clara cria incertezas especialmente para os usuários.
Estudo recente do Itaú estimou o tamanho desse mercado. Segundo a instituição, o gasto líquido com apostas on-line gira em torno de R$ 23,9 bilhões por ano, o que representa 0,22% do PIB, 0,34% do consumo das famílias e 1,95% da massa salarial. Gastos com marketing do setor sugerem que a receita total das companhias esteja entre 8 bilhões e 20 bilhões de reais, com um valor mediano de R$ 12 bilhões. Apesar dos números expressivos, o estudo não indica que esses gastos estejam influenciando de forma relevante o desempenho de outros setores, como o varejo.
No entanto, é evidente que os jogos de azar podem afetar a economia, visto que muitas pessoas destinam parte de sua renda a essas atividades. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que 17% dos beneficiários do Bolsa Família já fizeram apostas on-line, número um pouco maior do que a média geral da população (15%). Além disso, quase um terço desses beneficiários gasta, em média, R$ 100 por mês em apostas. Em um país com baixa educação financeira, onde grande parte do dinheiro é investida em opções menos competitivas e apenas 2% da população investe em ações, muitos brasileiros enxergam nas apostas on line uma forma de enriquecimento rápido.
A despeito disso, a experiência internacional demonstra que a regulamentação desse mercado pode trazer benefícios econômicos, como o aumento da arrecadação de impostos e a criação de empregos em setores como tecnologia e marketing. Países como o Reino Unido e Malta exemplificam como essa formalização pode resultar em um crescimento da receita fiscal, sendo revertida para financiar serviços públicos.
Por aqui, porém, enquanto a regulamentação ainda não está bem definida, o número de sites de apostas continua a crescer. A ausência de uma fiscalização mais rígida pode impulsionar o vício e a prática de atividades ilícitas. Portanto, o desenvolvimento de uma regulamentação adequada e a criação de mecanismos eficazes de controle são essenciais para minimizar os impactos sociais negativos e garantir um crescimento sustentável para essa nova forma de entretenimento digital.
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