Empreender é ressignificar

Quem tem coragem de empreender também consegue ressignificar; entenda

Tenham a possibilidade de criar um novo caminho para suas vidas, distanciando-se do ambiente tóxico em que estavam inseridas

Em meio ao caos de um relacionamento abusivo, deixei de ser CLT para ser dona de casa e ajudar com outras tarefas, a partir desse trato vivi em um cativeiro mental. Completamente dependente financeira e emocionalmente vivia para aquele relacionamento, com isso fui me afastando das amizades e pessoas do meu convívio. Não tinha voz nem vez… e a situação se tornava cada dia mais difícil, pois por ser o provedor, se achava no direito de subjugar mas era assim que vivia e ouvia “quem paga as contas é que dita as regras”.

Mas acreditava na mudança quando, por algumas situações, recebia alguma forma de afeto e cuidado. Momentos bons eram momentâneos e somente para compensar alguma frustração causada, entendi que na verdade estava vivendo um relacionamento abusivo. Infelizmente a violência doméstica não era único problema existente, sair desse lugar de dor já necessitava de muita coragem e autonomia financeira e em meio a tudo isso não via uma saída, então por obra do acaso comprei algumas peças íntimas e levei para mostrar a algumas amigas. Para minha surpresa, vendi todas.

A partir daí a ideia de empreender. Então surgiu a Tita Moda íntima, que ia comigo nas sacolas cheias de mercadorias sem hora e nem lugar, atender, comprar e vender era uma válvula de escape para me desconectar daquela situação e o que me motivava diariamente a estar de pé.

Formada em marketing, resolvi criar então a loja on-line, fazendo a Tita alcançar mais pessoas. Três meses depois que comecei as vendas, não tinha mais força para carregar tantas mercadorias, pois atendia on-line e pessoalmente no local determinado pela cliente, então resolvi investir meu lucro e montei uma loja física, era a realização de um sonho, tudo feito com muito amor, chamada pelas clientes de loja da Barbie, pois era tudo rosa.

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Durou pouco, por problemas administrativos e a pressão do relacionamento o sonho acabou! Não suportei e decidi fechar. Não tinha ideia do que ia fazer a partir dali. Porém tinha toda estrutura, então decidi montar a loja dentro de um quarto que estava vazio em casa e novamente estava eu ali, diante de um novo desafio. Por muitas vezes ouvi: “não sei por que você não desiste, já viu que não está dando certo. Desiste disso. Procura outra coisa pra você fazer.” Mas não dei ouvidos e continuei.

Me reinventei, então foquei no on-line, fiz parceria com algumas blogueiras que fizeram divulgações, provadores e com isso o engajamento e o número de clientes aumentou, consequentemente as vendas. Despachei mercadoria para todo o Brasil e fora dele também. Comecei a colher os resultados. Mas o corpo e a mente começaram a dar sinais que algo estava errado, estoque lotado e eu completamente sem energia física, crises de ansiedade, falta de sono e outras coisas…foi difícil mas precisei tomar a decisão de parar por alguns meses, para cuidar de mim, pois um relacionamento abusivo acarreta vários problemas de saúde e emocional. Mesmo com todos esses sintomas o relacionamento continuava de mal a pior. Agressão física, verbal, moral, patrimonial, seguida de várias ameaças, fizeram com que alguém denunciasse anonimamente e o ciclo foi encerrado. Então me divorciei com todos os trâmites judiciais, abri mão dos meus direitos para ter paz.

Então era a hora de Ressignificar, começar do zero, reestruturar uma casa com pouco capital, e sem ajuda, foi cenário desafiador de muita insegurança, medo e vários questionamentos, não foi fácil mas precisava de força e coragem, enfrentar novos desafios na vida pessoal e profissional. Aos poucos as coisas foram acontecendo, superei várias dificuldades pessoais e profissionais, a maior delas no âmbito empreendedor foi criar conteúdo de valor após tantas turbulências, como fazer pesquisa de mercado e comprar sem vontade sequer de levantar da cama, como ter capital de giro com estoque baixo, a falta de dinheiro e o pior deles estava afastada das redes sociais, e como diz o ditado “quem não é visto não é lembrado”.

Mas minha motivação veio através das minhas clientes, que começaram a me procurar e daí em diante eu entendi que desistir não era uma opção e que precisava voltar. Retomei as plataformas digitais, atendimentos e consultorias, vivia um dia de cada vez, no meu tempo, trabalhando com o que tinha e aprendendo a atravessar situações adversas acreditando que tudo ia dar certo.

Sigo firme no meu empreendimento e hoje minha meta não é só vender, mas investir tempo e conhecimento para que através da minha experiência eu possa ser inspiração para mulheres que passam por abuso, para que elas voltem a acreditar no seu potencial e tenham sua dignidade e autoestima de volta e por meio do empreendedorismo, também tenham a possibilidade de criar um novo caminho para suas vidas, distanciando-se do ambiente tóxico em que estavam inseridas. Ao se dedicarem a um negócio próprio, essas pessoas podem encontrar uma nova fonte de propósito e satisfação, contribuindo para sua integração social e emocional.

Assim seguimos.

Reflexão: “O que você pensa ser o fim, pode ser a sua maior oportunidade de ressignificar e se tornar a sua melhor versão.”

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