Espiritualidade nos Negócios

Espiritualidade cresce como pauta estratégica nas empresas

Instituições religiosas continuam sendo percebidas como espaços de acolhimento, significado e pertencimento

Em 2020, no ápice da pandemia, entrei em um aplicativo que se chama Clubhouse. Nesse aplicativo, debates eram realizados com personalidades do mundo todo, anônimos ou famosos, não importava. Estavam todos lá com a vontade de trocar ideias sobre algo. Dali nasceram muitas conexões e ideias, e de repente entrei numa sala exclusiva de padres de Portugal. Eram padres modernos, um deles hoje famoso no mundo inteiro por ter se tornado DJ. Nessa sala, fiquei só escutando até ter a oportunidade de falar e, quando tive, lancei a pergunta: o que vocês acham de trazer a espiritualidade para os negócios, através das lideranças?

Quando tive acesso ao estudo Índice de Confiança Social (ICS) 2025, da Ipsos, a primeira coisa que me lembrei foi desse episódio. Parece que é um caminho formar líderes religiosos em temas que os letram em como a espiritualidade (e não a religião) molda os negócios.

O estudo revela um dado que deveria estar no centro da mesa de qualquer líder contemporâneo: no Brasil, as pessoas confiam mais nas igrejas do que nas empresas. Esse resultado, mais do que estatístico, é simbólico. Ele aponta para uma verdade que o ambiente corporativo tende a ignorar: confiança não é construída com campanhas, discursos ou políticas internas isoladas, ela nasce do vínculo humano, de coerência ética e de propósito vivido na prática.

As instituições religiosas, mesmo enfrentando desafios e controvérsias, continuam sendo percebidas como espaços de acolhimento, significado e pertencimento. Enquanto isso, muitas empresas ainda são vistas como ambientes de cobrança, metas e competição. O ICS 2025 mostra empresas bem posicionadas (57% de confiança), mas ainda atrás das igrejas, que tradicionalmente mantêm índices superiores. Essa diferença revela um padrão: as pessoas confiam mais onde se sentem vistas e menos onde se sentem avaliadas.

O que isso significa para a liderança? Significa que a lógica tradicional, baseada apenas em eficiência e performance, não é mais suficiente. A sociedade está exigindo uma nova categoria de liderança, aquela que integra racionalidade com humanidade, estratégia com propósito, técnica com consciência. Uma liderança que compreende que espiritualidade não é religiosidade, mas capacidade de presença. É a habilidade de lidar com pessoas considerando suas emoções, suas histórias e suas necessidades profundas.

Quando líderes adotam práticas como escuta ativa, clareza ética, transparência e cuidado, eles passam a construir um tipo de confiança que nenhuma ferramenta tecnológica substitui. Percebo também que trabalhar a virtude da esperança, do cultivo de dias melhores, se torna a melhor possibilidade. Escutei há um tempo em um evento, a Cátedra do Amor, uma palestra de Roberto Crema, informando que as empresas seriam as novas igrejas. O desafio que vejo é letrar as lideranças religiosas e empresariais para separar o que é espiritualidade e o que é religião.

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