Finanças em Foco

O barro e o balanço: lições da cerâmica para a inteligência tributária

Assim como na cerâmica, a inteligência tributária também requer precisão

Há algo simbólico em colocar as mãos no barro. Moldar, polir, errar, recomeçar, um processo manual, sensível, que exige paciência e presença. Quando comecei a fazer cerâmica, não imaginava que esse exercício de transformar matéria-prima em forma se tornaria também um espelho da minha atuação na área tributária e da minha jornada profissional.

Liderar um negócio é um ato de coragem e autenticidade. Coragem para encarar a incerteza e autenticidade para se manter fiel a valores que, muitas vezes, o mercado tenta diluir. A área tributária, especialmente, é um terreno fértil para esse aprendizado.

O sistema tributário brasileiro está passando por uma das maiores transformações das últimas décadas. A reforma tributária, recém-aprovada, convida profissionais e empresas a repensarem modelos, processos e mindsets. Ser um líder tributário, hoje, é atuar como empreendedor dentro do próprio sistema: traduzir complexidade em clareza, burocracia em eficiência e legislação em valor estratégico.

Empreender nesse contexto significa entender o processo de ponta a ponta, da estratégia de performance à operação, do jurídico à contabilidade. Assim como na cerâmica, em que o toque, a temperatura e a água precisam estar em equilíbrio, a inteligência tributária também requer precisão, sensibilidade e tempo de maturação. O resultado, em ambos os casos, nasce do equilíbrio entre técnica e intuição.

Mas empreender no Brasil é, por si só, um ato de resiliência. O País ocupa a 7ª posição mundial em taxa de empreendedorismo. Já o GEM 2024 mostra que 49,8% dos brasileiros adultos pretendem abrir um negócio nos próximos três anos, e 67,4% afirmam ter o conhecimento e a experiência necessários para empreender.

Apesar desse potencial, o ambiente de negócios ainda impõe barreiras. De acordo com o Banco Mundial (Doing Business 2020), uma empresa gasta, em média, 1.500 horas por ano apenas para lidar com obrigações tributárias, o que coloca o Brasil na 184ª posição entre 190 economias em facilidade para “pagar impostos”. É nesse cenário que o profissional tributário atua como verdadeiro empreendedor interno; aquele que equilibra compliance, estratégia e inovação.

Empreender é transformar burocracia em estratégia, incerteza em aprendizado e limitação em criatividade. Na cerâmica, aprendi que o erro não é o fim, mas parte do processo de criação. No empreendedorismo, aprendo que as falhas também moldam o sucesso. E na liderança tributária, compreendo que a exigência não é dureza: é compromisso com o melhor que podemos entregar, conosco e com os outros.

Liderar, hoje, é promover ambientes colaborativos, incentivar o pensamento crítico e traduzir o complexo em acessível. Assim como o barro precisa do fogo para ganhar forma definitiva, a área tributária, e o próprio empreendedorismo, se fortalecem na adversidade. O desafio não é apenas sobreviver, mas seguir criando, com coragem, autenticidade e propósito.

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