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O desafio do mercado imobiliário brasileiro: como navegar em tempos de alta de juros 

CEO da SQUAD Realty faz uma análise do futuro do setor no país e aponta necessidade de investimento em tecnologia e melhora de estrutura organizacional, entre outras ações
O desafio do mercado imobiliário brasileiro: como navegar em tempos de alta de juros 
Crédito: Adobe Stock

O Brasil enfrenta um cenário econômico desafiador, com a inflação acima da meta e altas taxas de juros, o que afeta diretamente o mercado imobiliário. Os desafios dessas projeções tendem a se refletir no setor, principalmente nos imóveis de médio padrão que dependem de crédito. Já o segmento econômico, que conta com incentivos do governo, deve ganhar mais atenção do mercado nos próximos meses.  

Os  efeitos diretos dessa tensão são: o poder de compra do consumidor diminui já que os preços aumentam e o dinheiro que antes comprava mais, agora compra menos; a alta da taxa de juros torna o crédito mais restrito e os bancos adotam uma postura mais conservadora. Ou seja, a liberação do crédito se torna mais difícil, mesmo que o cliente queira comprar e tenha capacidade de pagamento.

Nós já vivemos isso no passado, há cerca de 10 anos, quando muitos imóveis vendidos com taxas de juros baixas foram entregues quando elas já estavam mais altas. Como consequência, muitos compradores não conseguiram arcar com o financiamento e acabaram desistindo da compra.

A expectativa é de que essas variações econômicas continuem a afetar o setor nos próximos dois anos. Outro ponto importante é o aumento dos “distratos” — rescisões contratuais entre compradores e construtoras. O mesmo fenômeno ocorreu em 2014 e 2015, quando imóveis vendidos com taxas de juros baixas foram entregues com taxas mais altas, o que levou muitos compradores a desistirem da compra.

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Esse cenário gera uma pressão adicional no mercado, com imóveis retornando para venda a preços mais baixos, o que impacta tanto o mercado de lançamentos quanto o preço dos empreendimentos. As construtoras, com custos mais altos de mão de obra e insumos, não conseguem lançar novos produtos com valores praticados no passado, contribuindo para a deterioração do cenário imobiliário.

A combinação de inflação alta, juros elevados, dificuldades de financiamento e custos de construção mais altos cria um ambiente mais restritivo e volátil para o mercado imobiliário. Os lançamentos feitos em 2022 e 2023, que começam a ser entregues em 2025 e 2026, serão um grande teste para o setor. A capacitação das equipes e a busca por processos mais eficientes serão determinantes nesse momento.

Em meio a esse cenário, a profissionalização das empresas será essencial para a sobrevivência e o crescimento. Construtoras que se prepararam adequadamente, com estratégias bem definidas, desde a aquisição de terrenos até o desenvolvimento do produto e a comercialização, estarão mais bem equipadas para enfrentar o período turbulento. As que falharem em se adaptar, otimizar processos ou criar uma estrutura sólida de marketing e vendas enfrentarão dificuldades.

Contudo, como em qualquer desafio, surgem oportunidades para quem está bem preparado. Empresas que conseguirem manter um controle financeiro rigoroso, investir em tecnologia e melhorar sua estrutura organizacional sairão, a exemplo do passado, mais fortalecidas desse período adverso. Acredito que não apenas sairão intactas, mas mais adaptadas e mais fortes para os desafios futuros. O mercado está repleto de soluções convencionais. A visão ampla e crítica de um ecossistema de aceleração especializado no setor imobiliário pode fazer toda a diferença nesse contexto. 

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