Finanças em Foco

Planejamento financeiro como ferramenta de autocuidado

É melhor aceitar as incertezas e se permitir ir se ajeitando pelo caminho

Lembro de um dos primeiros conselhos que meu pai me deu, assim que comecei a trabalhar: “Faça uma previdência privada”. Hoje, entendo que ele não estava me recomendando nenhum investimento em si. Na verdade, aquele era um conselho que certamente veio carregado de uma preocupação de quem não pôde fazer isso em seu tempo e já previa um perrengue dentro de alguns poucos anos. Ele queria mesmo era que eu já começasse a pensar no meu futuro, na minha aposentadoria, cedo assim.

Eu estava no auge dos meus 18 anos, o salário era pouco, mas eu contava com o privilégio de não ter boletos para pagar. Ainda assim, jovem e imatura, não ouvi o conselho. Talvez você até se identifique quando eu digo que eu pensava que esse era um assunto tão distante de mim, tão abstrato. Eu me sentia completamente incapaz de planejar isso sozinha e ainda que eu fosse procurar por apoio profissional, eu não tinha a menor ideia de a quem recorrer.

O tempo foi passando, os desafios da vida adulta foram aumentando e, logo, a percepção de que quando estamos falando de aposentadoria ou planos de longo prazo, o tempo e a constância são essenciais. Quanto antes a gente começa, menor é o esforço que precisa ser feito.

Atuando como planejadora financeira e sendo mulher, fui também aprendendo a olhar o planejamento financeiro por uma perspectiva de gênero. Para nós, o fato de não nos prepararmos para o futuro traz um impacto muito maior do que para os homens. Não é raro mulheres precisarem abdicar da sua profissão ou tempo de trabalho – no caso de profissionais autônomas – para se dedicar a algum tipo de trabalho de cuidado, sejam filhos, pais, companheiros, familiares ou a logística doméstica.

Muitas vezes, a alternativa é diminuir o ritmo de trabalho, abrir mão de um possível desenvolvimento profissional. Outras vezes, a opção é arcar financeiramente com a contratação de uma rede de apoio paga, para que possamos nos dedicar aos outros papeis da vida. Contexto esse que é muito mais raro na vida financeira de homens.

Esse e outros fatores trazem desafios para mulheres se organizarem financeiramente, é claro, mas também é um incentivo maior para que a gente possa enxergar nosso planejamento financeiro como ferramenta de autocuidado com o nosso presente, mas também com o nosso futuro. Se você, assim como eu lá no passado, não souber nem por onde começar, pode contar com o apoio de planejadoras financeiras para te apoiar nesse plano.

Ainda que pareça muito tempo, ou que você sinta que é muito dinheiro que precisa guardar até lá, vamos lembrar que estamos tendo a oportunidade de pensar e planejar com uma certa antecedência, essa é uma vantagem. O tempo vai passar de qualquer jeito e, a gente gostando ou não, a vida vai mudar, os planos também. É melhor aceitar as incertezas e se permitir ir se ajeitando pelo caminho.

É importante que a gente deixe de enxergar a aposentadoria apenas como uma idade, ou como um caminho linear, mas sim como um movimento de autocuidado, para que tenhamos ao menos a chance de poder escolher diminuir o ritmo de trabalho, se esse for um desejo.

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