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Planejamento financeiro: o belo versus o que funciona

Apenas com os objetivos mapeados, é possível montar um portfolio coeso com a melhor relação de risco, retorno e liquidez para a real necessidade do investidor
Planejamento financeiro: o belo versus o que funciona
Créditos: Adobe Stock

Li um texto de Morgan Housel há alguns dias sobre arquitetos que desenham para impressionar, não para morar — aqueles que projetam edifícios lindos, mas pouco funcionais. No livro How Buildings Learn, fica evidente que muitos arquitetos se veem como artistas, criando “edifícios admirados por todos, exceto por seus ocupantes”. Frank Lloyd Wright chegou a dizer: “Se o telhado não vaza, o arquiteto não foi criativo o suficiente”.

Embora eu não seja arquiteto, não consigo parar de pensar nesse ponto de Morgan e como esse raciocínio também pode ser aplicado ao mercado financeiro. Quando as pessoas pedem conselhos, geralmente buscam a ação mágica prestes a disparar ou o fundo que trará ganhos sem risco. Infelizmente, há profissionais dispostos a jogar esse jogo. A conclusão de Morgan é que muitos investidores acabam “comprando” uma casa deslumbrante, sem garagem e com infiltrações. Quando, na verdade, precisavam do equivalente financeiro a um prédio retangular: simples, mas que funciona.

A boa notícia é que o mercado brasileiro de assessoria financeira está evoluindo. Ainda assim, os desafios persistem: segundo a ANBIMA, apenas 23% dos investidores no país têm um planejamento financeiro estruturado. 

Um bom planejamento começa mapeando os objetivos de vida do investidor com profundidade. Apenas com os objetivos mapeados, é possível montar um portfolio coeso com a melhor relação de risco x retorno x liquidez para a real necessidade do investidor.

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Outro pilar essencial é compreender ativos, passivos, receitas e despesas. Apenas com esses dados, será viável projetar a evolução patrimonial. Com um fluxo de aportes factível, um bom planejador deve entregar uma projeção para cada objetivo mapeado. Poucas coisas são tão gratificantes quanto ver um cliente realizar um sonho traçado no plano.

Também é fundamental revisar o pacote de benefícios oferecido pelo empregador. Inscrever-se no plano de previdência privada na estrutura correta é apenas o começo.  Um planejador abrangente analisará detalhes como cobertura de seguros, e eventuais pacotes de remuneração baseados em ações da empresa.

Aspectos tributários e sucessórios não podem ser ignorados. Um bom planejador solicitará cópias de todos os documentos (testamentos, holdings patrimoniais, estruturas offshore etc.). A composição familiar e as leis estão sempre sofrendo alterações e esses documentos envelhecem mais rápido do que se imagina. Menos de 15% das famílias no Brasil têm isso estruturado, segundo o IBGE.

Por fim, é essencial enfrentar o conflito de interesses do setor: muitos assessores são remunerados por comissões dos produtos que recomendam. Segundo a CVM, mais de 60% dos investidores desconhecem os custos reais dos produtos que adquirem. Um bom planejamento financeiro deve ser feito com o foco nas necessidades do investidor, e não na remuneração obtida.

Compreendendo os pilares de um plano financeiro funcional, convido os leitores a seguinte reflexão: eu possuo um planejamento financeiro sólido? Ou a construção do meu futuro está nas mãos de um artista? No mercado financeiro, existe um abismo entre beleza superficial e o que funciona.

* Daniel Coelho é sócio da Invés, assessoria financeira de modelo fiduciário. Com ampla experiência em controladoria e assessoria de investimentos com foco em clientes de alta renda, graduou-se em economia pela University of Portland (UP), possui segunda graduação em contabilidade pelo IBMEC – Belo Horizonte, é planejador financeiro aprovado no exame de certificação CFP. Iniciou sua trajetória profissional atuando com planejamento tributário, foi sócio fundador da Seteloc (aluguel de veículos)  e possui 7 anos de experiência como assessor de investimentos. Possui conhecimento profundo em produtos financeiros, análise e monitoramento de mercado, planejamento financeiro, e planejamento sucessório.

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